Política

Declarações de vereadores indicam impeachment do prefeito de Caxias do Sul

Votação nominal e oficial ocorre só após as duas horas dedicadas à defesa de Guerra

Declarações de vereadores indicam impeachment do prefeito de Caxias do Sul

Os 15 minutos de declarações destinados ao vereadores de Caxias do Sul após 45 horas de leitura do processo que pede a cassação do prefeito Daniel Guerra são esclarecedores. Na tribuna, a grande maioria optou por apontar, na visão de cada um, os possíveis erros cometidos pelo chefe do Executivo caxiense nos três primeiros anos de mandato. Elói Frizzo (PSB), ferrenho opositor ao governo Guerra, foi o primeiro inscrito. O parlamentar citou o fato dos vereadores estarem analisando infrações político-administrativas que vão contra a Constituição Federal e Lei Municipal.

Em um discurso emocionado, Velocino Uez (PDT) citou em grande parte do tempo, o abandono aos agricultores e comunidades do interior. O parlamentar citou que “ele (Guerra) acha que é dono de Caxias. A cidade não começou em 2017. A dignidade da Festa da Uva, uma vergonha, o crime vem mais adiante. A viagem dos agricultores financiada com dinheiro do fundo da agricultura. Mas quem tinha que pagar era a Festa da Uva. Eu acompanho o parecer da comissão Processante com muito orgulho”, completou.

Elisandro Fiuza (Republicanos), da base governamental, salientou que houve erros em não manter um bom relacionamento com alguns setores, mas reiterou que não há nenhum tipo de crime cometido por Daniel Guerra e gestão.

“Quando falamos de crime de responsabilidade ou infrações político-administrativas, de impeachment, nós estamos desacreditados da classe política, por conta da corrupção. Quantos infelizes políticos prometeram algo, mas se demonstraram pessoas que não respeitam o voto das urnas. Neste governo não houve corrupção. Não houve ilegalidade. Qual foi a grande falta deste governo? É não ter tido a arte de fazer a boa política. O bom relacionamento. Mas isso não configura crime. Não podemos tirar um governante para colocar qualquer cidadão, que tenha até competência para estar lá, mas não dessa forma. Vocês acham que isso significa mudança? Que isso resolve seus problemas? É difícil vir fazer o contraponto com argumento, não com achismo. O impeachment é algo para que configure um grande crime de responsabilidade. Se você fosse governamente dessa cidade com mais de 500 mil habitantes, você acha que conseguiria fazer tudo? Entregar tudo? Não. Não faria. Meu voto e minha consciência não é por Daniel Guerra, é por vocês (povo). Marquem a data e a hora. Vocês acham que é desta maneira a coisa certa? Suas consciências vão falar”, disse.

“É o dia mais triste da política de Caxias do Sul”, disse Felipe Gremelmaier ao abrir seu discurso na Tribuna.

É um processo doloroso, ainda que seja democrático. Mas esse instrumento é necessário quando fere a legislação. O prefeito promoveu um retrocesso na nossa cidade. Caxias perdeu protagonismo regional, tamanho o isolamento provocado pela administração municipal. A atuação do governo é de desrespeito. Essa falta de consideração levaram o prefeito a cometer as infrações apontadas pela comissão Processante. Ao analisar as conclusões, levando em conta a forma radical que age a administração, voto favorável ao relatório”, salientou o emedebista.

“Eu fui julgado por amigos por ter diálogo harmonioso com o prefeito Guerra. Tentei fazer uma parceria. Eu fiz. Eu sendo vereador de oposição. Só que infelizmente, as coisas não andaram. Retrocederam. É bom ressaltar que no primeiro momento, fomos atendidos. Pacotes de protocolos das nossas demandas. Agora, as agroindústrias só fechando, ao invés de dar estrutura, incentivar o jovem, o produtor, fazer com que ele trabalhe dentro da Lei. Nós comemos do que vem do interior. Eu dei chance, prefeito Guerra. Até o apoiei. Acreditei nas promessas. Mas, foram promessas iguais amor de carnaval”, salientou Arlindo Bandeira (Progressistas).

O vereador Renato Nunes, sempre ao lado de Daniel Guerra e líder do governo na Câmara, fez seu discurso quando completaram 48 horas de sessão. Dois dias ininterruptos. Iniciou com voz embargada e terminou às lágrimas.

“Falando de família, falando de pessoas. De sentimento. Eu não pactuo com as armas de ofensas pessoais que atingem as pessoas”. – citando o que foi feito com Paula Ioris em relação ao filho assassinado. “Eu não sou inimigo. Eu sou adversário político que debate argumentos. A minha política é do bom relacionamento. Não corro. Não olho para trás. Eu vejo o bem da coletividade. Todo esse tempo em que defendi este governo, eu não defendi a pessoa Daniel Guerra, eu defendi o voto de quase 150 mil pessoas, o direito de escolha e o meu pão. Como qualquer pai de família faz. Posso ir para a fila do Sine, sem problema. Trabalhar não é vergonha. Eu já errei. Eu acreditei nas promessas. Não vão pensar que eu não briguei com o prefeito. Eu não concordo com tudo. Briguei com ele. Briguei com o Chico. Briguei com secretários aqui ontem. Respeite para ser respeitado. Eu tentei, várias vezes, avisar meu prefeito. Eu tentei, mas não tive muito sucesso. Que coisa feia para Caxias. Não queria que fosse assim”, terminou discurso chorando.

Favoráveis à cassação
Elói Frizzo (PSB), Alceu Thomé (PTB), Alberto Meneguzzi (PSB), Adiló Didomênico (PTB), Gustavo Toigo (PDT), Paulo Périco (MDB), Velocino Uez (PDT), Adriano Bressan (MDB), Ricardo Daneluz (PDT), Paula Ioris (PSDB), Rodrigo Beltrão (PT), Felipe Gremelmaier (MDB), Arlindo Bandeira (Progressistas), Kiko Girardi (PSD), Edson da Rosa (MDB), Tatiane Frizzo (Solidariedade), fechando 16 votos necessários para cassar o mandato de Guerra.

Contrários à cassação
Elisandro Fiuza (Republicanos), Denise Pessôa (PT), Renato Nunes (PR).

Demais vereadores ainda estão discursando. Denise Pessôa (PT) deverá ser contrária, assim como Renato Oliveira (PCdoB). Rafael Bueno (PDT) e Edicarlos (PDT) serão favoráveis.

A votação dos três itens ocorre apenas depois das duas horas de defesa da Procuradora-geral do município, Cassia Kuhn, e do advogado Vinicius de Figueiredo, representantes de Daniel Guerra. Em nenhum momento nestes dois dias de sessão, o prefeito esteve na Câmara.