O papa Francisco afirmou nesta segunda-feira (07), que a sociedade moderna deve respeitar os indígenas e evitar as colonizações que serviram para dividir e “aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles”. Ele lembrou a experiência argentina, seu país de origem, onde os povos originários sofreram e sofrem, ainda hoje, com atitudes depreciativas.
A declaração foi dada durante a abertura dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica.
“Viemos para contemplar, compreender, servir os povos e fazemos percorrendo um caminho sinodal, não numa mesa-redonda, em conferências ou em discursos, mas em sínodo. Porque um Sínodo não é um parlamento, um locutório, é um caminhar juntos sob a inspiração do Espírito Santo”, afirmou o pontífice.
Ele explicou que o Sínodo para a Amazônia tem quatro dimensões: pastoral, cultural, social e ecológica. “A primeira é essencial porque abarca tudo e vemos a realidade da Amazônia com olhos dos discípulos, mas também com olhos missionários.”
Portas abertas
Para o relator-geral do Sínodo para a Amazônia, cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), a Igreja Católica “precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade”.
Ele discursou nesta segunda-feira, na abertura do Sínodo, e ressaltou a prática da misericórdia, da caridade e da solidariedade, “sobretudo para com os pobres, os sofridos, os esquecidos e descartados do mundo de hoje, os migrantes e os indígenas”.
A REPAM é formada pelos nove países que formam a Pan-Amazônia, uma região com 7,8 milhões de quilômetros quadrados onde vivem 33 milhões de habitantes, incluindo 1,5 milhão de indígenas de 385 povos.
“Deve-se ter presente também que a Igreja missionária da Amazônia se destacou através de sua história – e ainda hoje se destaca – com grandes e fundamentais serviços para a população local na área da escolarização, da saúde, do combate à pobreza e à violação dos direitos humanos”, afirmou Hummes.
A missão da Igreja hoje na Amazônia é o núcleo central do sínodo. “É um sínodo da Igreja e para a Igreja. Aberta ao diálogo, sobretudo ao diálogo inter-religioso e intercultural, acolhedora e desejosa de compartilhar um caminho sinodal com as outras igrejas, religiões, ciência, governos, instituições, povos, comunidades e pessoas, respeitando as nossas diferenças, no intuito de defender e promover a vida das populações da área, especialmente dos povos originários e a biodiversidade do território na região amazônica”.
Hummes afirmou ainda que, segundo o processo de escuta sinodal da população, “na Amazônia a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas que extraem de modo predatório e irresponsável legal ou ilegalmente as riquezas do subsolo e da biodiversidade, muitas vezes em conivência ou com permissividade dos governos locais e nacionais e por vezes até com o consenso de alguma autoridade indígena”.
O cardeal falou também sobre o cuidado e a defesa dos povos amazônicos: indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pobres de todo tipo, pequenos agricultores, pescadores, seringueiros, quebradeiras de coco e outros, conforme a região. “Está missão não será certamente um peso, mas uma alegria que só o Evangelho oferece”.
Abertura
Uma oração diante do túmulo de Pedro, na Basílica San Pietro, no Vaticano, marcou o início dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica. O encontro dos bispos católicos na sede da Igreja, no Vaticano, segue até o dia 27 de outubro e tem como tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
O encontro reúne bispos provenientes não só da região Amazônica, que abarca Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guianas e o Suriname, mas também de outras regiões. Entre os 185 sacerdotes sinodais que participam do evento, 58 são brasileiros. Participam também representantes de comunidades indígenas.
A oração inicial, na Basílica, foi intercalada com um canto da região amazônica, seguido pelo Veni Creator, um hino da Igreja Católica que invoca o Espírito Santo. Em seguida, os participantes seguiram em procissão até a sala sinodal levando cartazes com imagens de mártires e símbolos da região amazônica, como o barco, a rede e outros objetos indígenas.
O sínodo é composto por uma extensa programação, organizada paralelamente em diversas línguas, que inclui celebrações, reuniões online, painéis de especialistas, mostras fotográficas, apresentação de documentários e mesas-redondas. Os diferentes eventos, com datas e locais, podem ser conferidos na internet.
Fonte: Agência Brasil