Não é mais possível negar que há uma guerra em curso pelos pontos de tráfico de drogas na Serra Gaúcha e que a atuação de facções na disputa pelo mercado é uma realidade.
A população é quem mais sofre, perdendo a paz e a tranquilidade em meio a um aumento da violência e dos assassinatos, a maioria deles ligados à disputa do tráfico.
O problema é que, ainda hoje, os governos e as autoridades policiais minimizam a existência dessas facções até pra esconder os bastidores da instabilidade do sistema prisional aqui, no estado e no país inteiro.
E é em grande aí que, literalmente, mora o perigo.
Porque é muitas vezes dentro dos presídios que as violentas facções criminosas se multiplicam.
E era de se esperar que, depois das chacinas deste ano em vários presídios país afora, a retomada do controle das prisões fosse prioridade. Mas o que a gente tem visto por aí é que a negligência, a incompetência ou até a falta de vontade política continuam permitindo que as facções criminosas usem as celas das cadeias para o recrutamento de novos membros.
Por isso não dá mais pra negar que essas organizações criminosas estão sim senhor espalhadas por todo o território nacional e em clara ascensão, e que uma disputa por rotas, mercados e territórios está em franco andamento.
E o problema é que, mesmo com a eficiência das polícias, o tráfico tem essa capacidade de renovação que nenhum outro crime tem, e por isso mesmo, as toneladas de drogas apreendidas a cada ano e as centenas de prisões nem de longe chegam perto de abalar o mundo do crime.
Porque a polícia combate o tráfico de drogas como se enxugasse gelo, não por sua culpa, mas porque o sistema não garante estrutura pro combate em todos os níveis, com uma política eficaz de controle de drogas no país que não está apenas nos mecanismos policiais, mas na repressão efetiva aliada a um sistema jurídico-legal eficaz e a políticas sociais que descriminalizem o usuário, inibam o surgimento de adictos e ofereçam tratamento aos dependentes.
Só assim vai ser possível atacar o tráfico em todas as frentes, cortando o financiamento das facções e cortando o moto-contínuo dos usuários. Do contrário, a gente vai seguir combatendo os ramos sem tocar a raiz, e enxergando no máximo a ponta desse iceberg.