Opinião

Guerra de versões, uma leitura possível

Guerra de versões, uma leitura possível


Gleisi, Lula e toda a cúpula dos governos do PT durante 16 anos são criminosos, merecem estar na cadeia – muitos estão mesmo – e a Operação Lava Jato veio para sanar. Estancar a mãe de todos os males que emperram o Brasil, a tal corrupção. Ao mesmo tempo o governo Bolsonaro, legitimamente eleito, chegou para inverter a pauta. Mais liberalismo na economia e conservadorismo nos costumes. Imponha-se isto, mesmo que para tanto seja necessário desconsiderar algumas regras legais ou de civilidade. Esta, em síntese, a defesa de quem votou em Bolsonaro e não se arrependeu.

Do lado contrário, diz-se que a L J – aqui não se usa uma abreviação para não dar força a um termo tão caro à situação – é uma força tarefa qualificada custeada com recursos públicos agindo como um grupo político com fins escusos. É um escândalo sem precedentes. Tinham carta branca e alimentavam mídia e movimentos políticos a partir de informações do próprio Ministério Público.

São dois discursos antagônicos sendo propagados no intuito de justificar de lado a lado, ações e reações num país que vive há décadas o desafio de crescer e distribuir riquezas inserindo-se no mundo ocidental com capacidade de concorrer no mercado global e ao mesmo tempo tem desafios internos gigantescos: a já citada corrupção endêmica; o deficit público bilionário e crescente; carga tributária excessiva e contrapartida em serviços ineficiente. Tudo isto entre tantos outros problemas como saúde degradada, infraestrutura corroída e bandidos praticando a lei do Talião como nunca se viu.

Falar mal de um governo não chega a ser raro. A novidade é que o patrulhamento ideológico mudou de lado (e o bom entendedor saberá que se mudou é porque já esteve ao lado do PT e de outros partidos de esquerda). Repetir como um mantra os seus valores e desqualificar quem estiver do outro lado faz parte da guerrilha ideológica, sempre em busca de novos adeptos, tentando atrair quem já não esteja convicto e sua posição.

Quem tiver convicção e coragem que continue vociferando seus argumentos, embora aprendi desde cedo que repetir uma mentira não a torna verdadeira e que quem grita deve ter argumentos fracos.

A Lava Jato prestou e tem prestado excelente serviço à Nação. Usou de leis, da qualificação e instrumentos que o MPF e a polícia Federal dispõem. Articulou-se politicamente e, aqui o politicamente dispensa políticos como sujeitos da ação, quer dizer que houve combinações e conversas talvez nem tão republicanas em busca de prender quem se sabia estava roubando a Petrobrás. O instituto da delação premiada e a prisão como forma de buscar tais delações são medidas quase de força que resultaram em mais do que delações: confissões e devolução de bilhões desviados.

É aceitável que se questione os métodos e os agentes. A simples indicação do juiz Sérgio Moro ao ministério da Justiça só a estranha num mundo democrático e ético. As falas e o açodamento do Promotor Deltan Dall´Agnol talvez sejam compreensíveis diante da tarefa descomunal e dos inimigos que ele precisou enfrentar. Uma pena que estes dois agentes tenham se exposto. Mas a Lava Jato deve ser maior do que seus protagonistas. A troca de atores talvez fosse o melhor para preservar o todo.