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O banquete do butim e a indigestão dos botocudos

O banquete do butim e a indigestão dos botocudos

Mesmo que sejam palavras de delatores e que, como defendem os petistas mais crédulos, faltem provas efetivas que coloquem definitivamente um fim em todas as dúvidas sobre o envolvimento e o comando do ex-presidente Lula no mar de corrupção que assola o país, vamos combinar que fica cada vez mais difícil acreditar na inocência daquele que já disse que não há brasileiro mais honesto que ele.

E essa tarefa ficou ainda mais inimaginável depois da carta do ex-ministro Antonio Palocci pedindo a desfiliação do PT antes que fosse expulso do partido depois que começou a atirar sua metralhadora em Lula, Dilma e no partido pra garantir um acordo de delação que o tire da cadeia depois de mais de ano no xilindró.

E vamos combinar também que é bem difícil acreditar que ele tenha inventado todos esss detalhes sórdidos pra garantir que vai pra casa né? Tá certo que depoimentos de candidatos a delação têm de ser encarados com um pé atrás, mas, neste caso, o que choca mesmo é a riqueza de detalhes da confissão de alguém que viveu de tão perto a intimidade do poder.

Quem ouve os comentários que faço nos espaços do Grupo RSCOM, quem lê o que escrevo no portal Leouvê sabe que desde o mensalão eu sempre defendi que Lula sembre soube do que acontecia. E sabe também que eu sempre disse que tudo o que aparecia contra o pt já era feito antes, muito antes.

Porque nesse nosso modelo de governo de cooptação, comprar o apoio dos fisiológicos deputados e senadores dessa nossa república de bananas sempre foi prática dos governos pra aprovar o que quisessem. Não precisa ir muito longe pra confirmar isso: é só lembrar das privatizações dos governos tucanos e do episódio que permitiu a FHC alterar mudar a lei pra garantir a reeleição.

E, pra mim, pelo menos em um momento a carta do Palocci veio confirmar tudo isso.

É quando ele descreve o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política, no melhor dos momentos do seu governo, como se ali estivesse um divisor de águas. E me parece que é exatamente isso. Porque é impossível não lembrar que, dali pra frente, Lula abriu as portas do segundo governo pra ampliar a coalizão e abraçou o PP e o PMDB em ministérios, cargos nas estatais e diretorias da Petrobras. Deu no que deu.

Daí ao desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história, como disse Palocci, foi só o caminho natural de tantos convidados se refestelando na festa do butim. A diferença é que lula era o convidado indigesto que forçou a entrada e quis sentar na cabeceira da mesa do banquete.

E sentou. E se empanturrou.

Mas somos nós, os botocudos, que sofremos com a indigestão.