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A Dinamarca é aqui

A Dinamarca é aqui

A troca de comando da Procuradoria-Geral da República abre mais uma semana de turbulências na política tupiniquim com uma enorme interrogação que ultrapassa a simples substituição de Rodrigo Janot por Raquel Dodge.

Os próximos dias e os primeiros atos da nova procuradora vão mostrar ao país o que será do combate à corrupção e quais os rumos da Lava-Jato num mandato que leva a marca da escolha de um governo corrupto e com diversos integrantes entre os investigados pelo Ministério Público.

E é exatamente porque as circunstâncias da escolha de Raquel Dodge por Michel Temer não foram felizes é que há muitas dúvidas no ar.

Porque ela ficou em segundo lugar na votação dos procuradores e, portanto, não é a primeira escolha do MP, ou porque logo depois de ser escolhida teve encontros furtivos, à noite e fora da agenda com o senhor denunciado Presidente da República, ou ainda porque a sua posse foi marcada pela presença maciça de investigados, suspeitos e denunciados.

É evidente que haverá mudanças. Inclusive na equipe da Lava-Jato. Afinal, Raquel Dodge foi candidata de oposição à gestão de Janot, e nada mais natural que ela montar a sua equipe e não trabalhar com o grupo do antecessor.

Mas não é essa a questão. O que será preciso é manter o foco.

E, pra isso, será preciso agir. Nem tão rápido que pareça afobamento, nem tão devagar que pareça descaso.

Porque o combate à corrupção é ainda hoje a principal tarefa do MP, e porque, como disse o Janot na porta da rua, ainda há larápios e escroques nos altos cargos dessa nossa república de bananas.

Porque o maior legado de Janot e de seu antecessor, e que precisa ser preservado a qualquer custo, é a independência, depois de anos de procuradores que passaram à história como engavetadores-gerais, e, principalmente, porque ainda há muito a fazer.

O certo é que Raquel Dodge assume no momento mais delicado da Lava-Jato, e vai precisar provar que não está ali pra integrar a estanca sangria da operação abafa.

Porque não podemos esquecer que, se há algo de podre no reino da Dinamarca, como disse Janot citando o bardo inglês, a Dinamarca é aqui.