Caxias do Sul

Novo comando de facção orienta bando a "se unir e cometer mais crimes no RS"

Organização criminosa tem na zona norte de Caxias do Sul um dos seus braços mais fortes no estado. Foto: Reprodução
Organização criminosa tem na zona norte de Caxias do Sul um dos seus braços mais fortes no estado. Foto: Reprodução
Organização criminosa tem em Caxias do Sul um dos seus braços mais fortes no estado. Foto: Reprodução

A tentativa do Estado de dar uma resposta à sociedade diante do caos da segurança pública e do crescimento em progressão geométrica das facções criminosas dentro e fora do sistema prisional pode ter sido muito mais do que um tiro que saiu pela culatra, porque, em vez de erradicar a organização pela falta dos principais líderes, apenas antecipou a sucessão nas quadrilhas.

Com as transferências dos 27 criminosos mais temidos do estado, realizada em uma das mais audaciosas operações da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, “embalados”, como se diz na gíria das cadeias, da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), na Região Metropolitana de Porto Alegre, para presídios federais em Rondônia, no Rio Grande do Norte e no Mato Grosso do Sul – entre eles, os líderes das principais facções que operam dentro das cadeias e alguns ícones do crime, como José Carlos dos Santos, o Seco, considerado o maior assaltante de bancos e carros-fortes do sul do país – o segundo escalão na hierarquia das quadrilhas ganhou força.

Ouça na íntegra as orientações passadas de dentro da cadeia:

A ousadia dos bandidos vai além dos áudios publicados de dentro das cadeias. Eles também trocam fotos do armamento da facção. Foto: Reprodução

 

E ordem nas organizações do crime é clara: se unir, cometer mais crimes para ganhar mais dinheiro e fortalecer as facções, dentro e fora das cadeias.
Para isso, a principal facção que atua no Estado, os Manos, que tem estreita ligação com a maior organização criminosa do país, o PCC paulista, iniciou um movimento orquestrado por seus remanescentes no sistema prisional para aumentar seu exército e consolidar sua filosofia do crime até o retorno de seus líderes após o período de confinamento longe do Rio Grande do Sul.

Em uma gravação supostamente dirigida a grupos de criminosos em aplicativos de mensagens instantâneas e interceptado pela polícia, um apenado pede que todas as cadeias do estado onde há a presença da facção Os Manos se reúnam para discutir a questão da transferência das lideranças que estavam no topo da pirâmide da organização criminosa e que não promovam desordem no sistema, incluindo guerras com as demais facções, até a estabilização de todos os grupos depois da ação do governo do Estado. O detento, identificado como “Minino”, informa que está repassando meio quilo de cocaína para todas as cadeias e reafirma quais cadeias estão dominadas pela organização criminosa.

O presídio Estadual do Apanhador, em Caxias é um dos locais dominados pela facção. Foto: Reprodução

“O bagulho nosso tá no chão. Vale do Taquari, Rio Pardo, Pelotas é com nóis, entendeu. Rio Grande é com nóis (sic). É metade de Caxias é com nóis (sic). E o Vale do Taquari lá tá com o Tio. Porto Alegre um pedaço tá com o Tio. Eles têm os pedaços deles, mas temos que cuidar dos nossos”, afirma.

O interlocutor segue orientando que não será admitida a entrada de droga clandestina no território da quadrilha, e nem de quem assaltar “bicheiro” (donos de bancas do jogo) e “cigarreiros” (contrabandistas que trazem cigarro do Paraguai para vender em bares e lancherias do estado).

A ordem para o momento, de acordo com a gravação, é atrair a menor atenção possível, o que inclui manter um bom relacionamento, inclusive com os agentes prisionais, e intensificar as ações de tráfico e os grandes assaltos, uma vez que a facção precisa apoiar as famílias dos líderes transferidos para outros estados.

“Nós temo (sic) que ajudar nossos irmãos lá nas cadeias federais com passagens, com casas pras mulher lá, com rancho pras mulher lá, entendeu? Os caras perderam tudo que tinham, os bens. Por isso que eu digo: hoje a gente tem, amanhã a gente não tem e o cara tem que ser sempre a mesma pessoa. Então tu passa esse salve pra rapaziada. As mulher (sic) tem que visitar os caras. Os caras vão ficar de castigo, sem comunicação”, afirma o criminoso.

Mesmo que não confirme a veracidade da gravação, a polícia tem conhecimento da sua existência e se articula para monitorar a situação nos presídios do estado. A presença das facções é a maior preocupação atual do Departamento de Polícia do Interior da SSP. Para o delegado Fernando Sodré, diretor do departamento, é preciso sempre monitorar as fontes de lucratividade dos grupos e combater as ações de lavagem de dinheiro.

Atualmente, este combate age em diversas frentes, com ênfase no isolamento das lideranças, na regionalização das investigações, com a criação de grupos regionais de investigação específicos, e nas ações em parceria, como a Operação Serrania, realizada e desencadeada no Presídio Estadual de Caxias do Sul entre a Polícia Civil, o Ministério Público, a Brigada Militar e a Susepe.