Opinião

Honestidade: Artigo de luxo

Sartori homenageou policiais por terem negado suborno de traficante em ação no litoral norte. A ação gerou o tema deste espaço de opinião. Foto: Luis Chaves/Palácio Piratini
Sartori homenageou policiais por terem negado suborno de traficante em ação no litoral norte. A ação gerou o tema deste espaço de opinião. Foto: Luis Chaves/Palácio Piratini

O nível de exigência dos brasileiros está abaixo da média. Comportamentos que deveriam ser normais dentro da sociedade são considerados exceções. Sim, estamos nos contentando com pouco. Ser honesto, por exemplo, é uma característica rara em determinados segmentos. Não corromper-se é digno de homenagens. Sério!

Não estou tirando o mérito do fato que irei descrever, mas me assusta que estejamos parabenizando policiais por não corromperem-se.

Ontem, terça-feira, dia 29, o governador do estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, prestou uma homenagem, uma distinção especial a 14 policiais militares que não aceitaram R$ 1 milhão me propina de um traficante que foi preso juntamente com mais 8 comparsas no litoral norte do estado.

Vejam bem: Eu não estou deixando de valorizar a ação do governo, nem desqualificando a homenagem, entretanto, estou questionando a nós todos como sociedade.

Hoje em dia, se vamos contratar alguém para nossas empresas, procuramos avaliar o caráter da pessoa em questão: Ela é honesta? É leal? É correta? Não é corruptível???

Infelizmente, hoje em dia, a pessoa ser do ‘bem’ já é passível de elogios…

Não deveria ser, deveria estar entre algo básico e comum do ser humano.

Na política, é normal que ouçamos: ” – Ahhh pelo menos aquele deputado ele não rouba!!!” ou “- Ahhh pelo menos ele rouba pouco!!!” O que??? Estamos nos contentando com representantes que pelo fato de não realizarem algum ilícito merece o meu voto ou a minha confiança???

Estes dias ouvi sobre um senador que ficou anos no poder:”- Ahhh ele era bonzinho. Nunca fez nada, que eu me lembre, mas também nunca roubou nada do país…” Sabe o que o pior? O interlocutor tinha razão. O nosso pensamento hoje é assim, nos contentamos com o básico, o que deveria ser comum, hoje em dia é tratado como artigo de luxo.

Ah Fabiano, mas a sociedade é assim!!! E é mesmo. Este pensamento surge quando nos deparamos com ações tão simples, como encontrar uma carteira perdida e devolver intacta para o dono, inclusive com o dinheiro dentro. Isso há alguns anos era extremamente normal, hoje vira um post com milhares de curtidas por ter sido um exemplo de atitude.

Obviamente que devemos enaltecer quem tem a honestidade em seu caráter, entretanto, devemos mais do que isso, educar as novas gerações, ensinando que isso não deve ser considerado uma ato de heroísmo ou isolado, e sim, uma ação que deve ser realizada sempre, todos os dias, todas as horas…

A honestidade começa conosco mesmo. Somos leais aos nossos conceitos? Somos leais aos nossos sentimentos? Somos honestos com os nossos valores?

Somos facilmente corruptíveis quando não deixamos de devolver o troco errado no ônibus, na farmácia, no supermercado, no açougue ou na padaria. Custa devolver? O mentiroso sentimento de vitória por levar vantagem em alguns centavos ou reais valem mais que sua ética com o ser humano???

Somos parte de uma sociedade corrupta quando deixamos de ser honestos com nossas contas. Quando deixamos de prestar esclarecimentos a nossos credores, quando simplesmente estamos pouco ‘nos lixando’ para o próximo, sendo egoístas ao pensar somente em nosso ‘umbigo’ esquecendo que do outro lado existe um ser humano, com seus valores, sua história, seus compromissos, suas responsabilidades e seus sentimentos.

Sejamos honestos de forma integral. Sejamos assim e comecemos por nós mesmos a plantar essa semente de bons caracteres, para que ali na frente, possamos exaltar grandes feitos e que o fato de policiais terem sido honestos sejam só mais um caso que possa servir de exemplo para toda sociedade e que tenhamos um país mais justo com os corretos e exemplar na punição àqueles que não são, e que estes sim, sejam o modelo para quem não segue na linha do bem e da reciprocidade nas relações.

FB.