Opinião

A palavra desnuda o governo

A palavra desnuda o governo

Vou logo avisando, só leia se estiver com tempo. Não quero ninguém reclamando depois que perdeu cinco preciosos minutos do seu dia para entrar em reflexões que, como cheguei a ler outro dia, podem não te trazer nada de prático. Não gostou, não curte ou põe a carinha de brabo. Mas não tem como devolver a mercadoria.

Fico pelado cada vez que demonstro minha posição ideológica. Fica nu quem critica com grosserias. Aliás nos desnudamos até quando nos vestimos: as cores, a sobriedade, as roupas mais caras ou modestas, tudo isto diz muito mais sobre nós do que algumas frases. Conta de nossas influências e pretensões ou simplesmente da nossa classe social. Também pode dizer com quem andamos.

Mas, expressar ideias com palavras é a forma mais corriqueira de nos expormos. Repare no discurso dos últimos quatro presidentes. Lula e Dilma; Temer e Bolsonaro. Três deles diretamente eleitos, o mais douto, chegou pela via indireta do impeachment. Desconfio firmemente que Temer não conseguiria jamais arrebatar milhões de eleitores com aquele papo engomado, mesmo sabendo que se elegeu deputado tantas vezes. Ele falando parece um daqueles bonecos de ventríloquo – aliás o Moro é parecido, queixo duro. Ainda assim, pelas atitudes, é cheio de seguidores, mas também de haters.

Na hora do improviso Lula se virava bem, porque falava a língua do povo e tinha a mínima noção do que um chefe de governo pode e deve dizer em público. Mesmo assim, não escapou de vexames. Exemplo é o episódio sobre os pelotenses, no qual ele não sabia que o microfone estava aberto. Tem uns que falam bobagens mesmo sabendo que as pessoas vão ouvir.

Dilma, sempre que tentava improvisar, acabava gerando piadas. Herdamos um legado das mais engraçadas peças de oratória sem pé nem cabeça. Algumas delas: “atrás de uma bola sempre tem uma criança”, “ode à mandioca”, “não podemos estocar vento”, “o dia dos pais também é o dia das mães”. Enfim, era uma ideia na cabeça que não chegava a acontecer.

Ninguém poderá se queixar de que o presidente Bolsonaro exponha quem não é. Ele não faz questão e talvez nem conseguisse mudar porque foi assim que chegou à presidência. Só que isto não é necessariamente bom. Frases curtas e potentes como coice de mula. Vamos lembrar: vivemos o presidencialismo e o cargo não é decorativo. Então ontem, depois do relativo sucesso das manifestações que, por mais que digam o contrário, eram em apoio a ele, acabou se retratando por ter chamado estudantes e professores de idiotas úteis.

Não foi assim um pedido de desculpas tão arrebatador, mas demonstra um mínimo de arrependimento. Mais um episódio para demonstrar cabalmente que este governo precisa urgentemente se comunicar melhor. Como é certo que continuará andando desnudo, melhor que seja de terno.