O anúncio de uma loja tradicional de vestuário de Caxias do Sul, divulgando uma seleção de modelos, causou revolta em um grupo de mulheres da cidade, por supostamente reforçar uma visão da mulher como objeto, incentivar comportamentos machistas e explorar a sexualidade feminina, além de gerar uma exposição de imagens de mulheres nas redes sociais. O texto foi veiculado na tarde desta quarta-feira, dia 23, na página do Facebook da loja, e logo recebeu diversas mensagens criticando a postagem, a ponto de ser removida horas depois.
A publicação tratava de um recrutamento de modelos para divulgar os produtos do estabelecimento. “Estamos selecionando novos talentos. Marca aqui aquela amiga que é fotogênica e sai bem em qualquer foto, até de cabeça pra baixo aquela que é saradona, toda malhada e é um arraso pode onde anda. Estamos à procura de garotas com corpo fitness, se você atende a esses requisitos publique suas fotos de corpo inteiro aqui neste postagem. Entraremos em contato com possíveis perfis selecionados. Obrigado!”, anunciava a publicação.
Algumas pessoas reclamaram do posicionamento da loja na própria postagem, criticando o tom da campanha e argumentando que a propaganda possuía conteúdo machista e que reforçava a objetificação feminina. “Aceitem que todas as mulheres tem corpos sensacionais mesmo estando fora desse padrão fitness e parem de querer tentar impor esse padrãozinho que quase ninguém tem e deixa muitas meninas tristes por não se enquadrarem nele”, manifestou uma jovem na publicação.
Um dos pontos que mais provocou a reação negativa dos internautas foi a exposição de imagens nas redes e solicitações atribuídas à loja para que as mulheres mandassem novas fotos. Além disso, a participação de menores também foi denunciada.
“Acho que o marketing de vocês tem muito o que aprender!! Vocês tem noção do tipo de abordagem?? E que tem muita guria menor de idade se expondo, e mais, que tem um monte de tarado esperando e salivando pra ver as “coxas e bumbuns fenomenais” sendo expostos aqui?!”, indagou outra mulher no anúncio.
Percebendo a repercussão negativa, a loja se manifestou, afirmando que o intuito da postagem era selecionar um perfil específico para o trabalho. “Nós queremos neste exato momento, o perfil de modelo como está descrito na postagem. Em nenhuma ocasião estamos rebaixando ou humilhando ninguém! Todo o tipo de mulher tem a sua beleza, pedimos que você respeite a nossa decisão. Nós divulgamos o que nós queremos e necessitamos. Quando chegar a hora de nós fazermos a seleção de modelo Plus Size, faremos! Obrigado a todas as meninas que estão postando suas fotos. Como já dissemos antes a proposta da Essência Jovem não é ofender ninguém, é vestir!”, comenta a página.
Na manhã desta quinta-feira, dia 24, a reportagem do Portal Leouve entrou em contato com o estabelecimento. Por meio de uma atendente, a loja informou que nenhum responsável se encontrava para tratar do assunto. Após a repercussão negativa, a loja deletou a publicação.
O episódio se assemelha a outras campanhas que foram alvo de críticas dos internautas por utilizar a imagem feminina de maneira considerada distorcida e até mesmo ofensiva.
Confira alguns casos recentes que causaram polêmica:
Saraiva
Para celebrar a data de 8 de março, a rede de livrarias Saraiva lançou uma promoção que dará 50% de desconto para mulheres que comprarem por meio de lojas físicas e virtuais no dia. Porém, o que era para servir como agrado, acabou gerando irritação em leitoras e leitores de todo o Brasil, que decidiram se manifestar por meio das redes sociais. Tudo começou quando uma jornalista do Maranhão usou sua página pessoal do Facebook para expor sua opinião, que acabou repercutindo pelo sentimento compartilhado entre muitas mulheres. No próprio post, houve uma discussão acerca da mesma conduta da livraria Saraiva em suas demais promoções, além da insatisfação de clientes que não conseguiram adquirir os produtos devido às restrições nas categorias dos livros. Na página oficial do Facebook da Saraiva, diversos consumidores ainda estão comentando sobre a escassez da promoção, principalmente no que se diz respeito à inclusão e ao acesso de materiais didáticos e de diferentes áreas profissionais para as mulheres. A Saraiva então informou por meio de comunicado que diversas categorias, não só as mencionadas em posts de consumidoras, estariam a venda com desconto de 50%, totalizando 200 mil títulos com descontos na data.
Skol
Em 2015, a marca de cerveja Skol lançou uma campanha de Carnaval que foi espalhada por todo o país através de outdoors, com frases do tipo “topo antes de saber a pergunta” e “esqueci o não em casa”. As frases acabaram ganhando forte repercussão negativa após uma intervenção da publicitária Pri Ferrari e da jornalista Mila Alves, que modificaram uma das frases em um outdoor para “esqueci o não em casa e trouxe o nunca”, em repúdio à campanha. Após a manifestação das amigas paulistas, os cartazes foram retirados das ruas, impactando na execução das próximas campanhas da marca. Em 2017, a Skol passou a desenvolver ações em prol da proteção das mulheres, ao distribuir apitos nos blocos carnavalescos de rua, a fim de evitar assédios. Depois disso, acabou sendo eleita a cerveja mais popular do carnaval.
Cerveja Proibida
“Proibida Puro Malte Rosa Vermelha Mulher, uma cerveja delicada e perfumada, feita especialmente para você mulher”. Assim começa uma publicação da Cerveja Proibida para anunciar o novo produto da marca, com aroma de rosas e, conforme diz a publicidade, voltada ao público feminino. Na página oficial do Facebook da marca, consumidores expuseram suas opiniões sobre a “cerveja rosa”. E a irritação sobre o machismo foi colocada em debate: foram mais de 2 mil comentários com mensagens que mesclavam ironia e indignação, principalmente de mulheres. “Nossa, que legal saber que agora posso tomar uma cerveja, obrigada Proibida por essa oportunidade! Eu vivi até hoje bebendo cerveja de homem, ufa, agora tem uma para a mulher”, escreveu uma consumidora acerca da novidade.
Samsung
Este ano, a Samsung divulgou seus novos notebooks, que têm como intuito atender o público feminino. No comunicado, a marca escreve: “o empoderamento feminino é um assunto bastante discutido ultimamente e que cresce ano a ano, tudo para desmistificar a imagem de frágil criada sobre as mulheres e mostrar o quão relevante é o papel da mulher na sociedade. Com o Dia Internacional da Mulher chegando, a Samsung quis homenagear as suas consumidoras mulheres que adoram (e não vivem sem) notebooks. Por isso, desenvolveu modelos com a cara delas: design arrojado, leveza e alto desempenho, tudo para agradar também o público feminino”. Em resposta a matéria a Samsung informou que não tinha intenção de gerar polêmica sobre o assunto. “A Samsung tem como política a inovação para todos os públicos e em nenhum momento pretendeu gerar qualquer polêmica, como a apontada por esta matéria; pelo contrário, a intenção sempre foi a de prestigiar as mulheres neste dia tão especial, apresentando esta linha que tão bem atende as modernas necessidades das consumidoras. No entanto, por fim, caso alguma consumidora tenha se sentido ofendida, pedimos nossas sinceras desculpas.”
Apple
A polêmica que envolve a Apple não é sobre o lançamento de um produto (nem sobre uma campanha específica), mas sobre denúncias de funcionárias, vazadas em setembro de 2016. Na época, e-mails de trabalhadoras vazaram e, em um dos documentos, foi relatado que “o privilégio masculino branco corre sem controle. A pior parte é que você não sabe em quem confiar e pode acabar sofrendo retaliações. Estou desencorajada e desanimada com o tratamento que recebo”, segundo uma delas.
*com informações do Brasil Econômico