Opinião

Ato de coragem

Ato de coragem


Tenho acompanhado as sessões da Câmara de Vereadores com muita assiduidade há mais de ano. Não sei bem de que água beberam os vereadores, mas não lembro de ter visto tamanha disposição para o trabalho naquele ambiente.

As sessões nunca duram menos do que duas ou três horas. E olhe que limitaram a leitura de proposições que chegavam ao número exagerado de 80 a 90 por sessão. Era enfadonho demais. Podem propor, mas exigir que todas sejam lidas era um porre.

Pois bem, mesmo que se abra o parêntesis pra dizer que a maioria dos vereadores concorda de forma pacífica e sistemática com tudo que o poder Executivo propõe (chama a isto base aliada, que, sabe-se, nunca vem absolutamente de graça), ainda assim dá pra dizer que tem trabalho e disposição lá no palácio 11 de Outubro. Fruto da renovação da última eleição ou simplesmente efeito da novidade de primeiro ano de mandato?

O certo é que já aconteceram 13 audiências públicas, algumas de muito interesse e de valor para a comunidade. Foi assim quando se discutiu a causa animal e agora nesta questão de regulamentar o serviço do transporte por aplicativo (Uber). Além das audiências, há frentes paramentares em defesa disso ou daquilo se formando. O que, no mínimo, denota preocupação e disposição para o enfrentamento de questões espinhosas.

Não há dúvidas de que a classe política está em dívida com a sociedade brasileira. Prometem muito, fazem pouco e se houver uma brecha, tomam dinheiro de fornecedores e de onde conseguirem para benefício próprio. Me perguntem se ponho a mão no fogo por algum deles e não hesitarei: ponho não.

O fato é que na Câmara de Bento tem havido economia, transparência e debates. Ainda acho que os debates podem subir alguns degraus na qualidade. Mas num ambiente democrático é difícil e subjetivo dizer o que é importante e válido e o que é desprezível e pode ir para o lixo. Quando os vereadores resolveram voltar o número de sessões para uma por semana fizeram uma opção arriscada em nome da sobriedade. Aliás, se os discursos fossem mais honestos e profundos talvez as duas sessões se justificassem. Não era o caso.

Pois agora a Câmara vai aos bairros, com o ParlaBento. Iniciativa tão boa quanto arriscada. Darão chance ao povo para falar e se aproximar. Vejo risco por dois ângulos pelo menos: pode ter gente se aproveitando da situação pra ir à desforra da classe política. Pode ter vereador se aproveitando pra fazer proselitismo.

Mas isto são presunções. Podemos todos nos surpreender e tirar boas ideias e soluções dos encontros. Aliás o próprio ParlaBento é uma boa ideia e um ato de coragem da classe política local.