No fim de semana passado, vivi uma experiência maravilhosa. Assisti a montagem do musical “Os miseráveis”, baseado no livro de Vitor Hugo, um clássico da literatura francesa. A peça traz a história de Jean Valjean, condenado a 19 anos de galés por ter roubado comida para a família. Como pano de fundo, temos os conflitos de julho de 1832 em Paris, quando diversas questões conjunturais da época, entre elas a inflação, o desemprego e a desindustrialização desencadearam confrontos sangrentos na capital francesa.
Parece que o mundo e os países não mudaram tanto assim desde o século XIX. Poucos lucram demais em cima do trabalho de muitos que pouco têm acesso a garantias fundamentais como saúde e educação. Foi assim na França do século retrasado e é assim no mundo do século XXI.
O Brasil não é exceção a esse panorama. Os ideólogos de direita defendem um estado sem interferência na vida das pessoas, um estado mínimo e quase sem nenhum benefício para a população majoritariamente sem condições de arcar com despesas básicas. Como se tudo pudesse ser resolvido pela boa vontade daqueles que ganham mais! O resto é lixo e deve ser extirpado da vida social! As palavras de ordem são: devo ser livre para escolher o que quero fazer, sou responsável pelas escolhas que faço e devo trabalhar até morrer para pagar por aquilo que desejo. Uma falácia! Uma mentira!
Semana passada estive num supermercado. No caixa, a conta chegou a R$ 790,00. E não tinha muita coisa. Como alguém vai comprar carne, arroz, feijão, óleo, sabonete, pasta de dente, entre tantas outras coisas necessárias para uma razoável qualidade de vida? Como?
Enquanto a direita reforça a tese de que a vida se resume a índices econômicos, de que o trabalho só será possível se o trabalhador contribuir mais para a previdência, de que o mundo só será melhor se tivermos mais “técnicos” conduzindo os destinos do nosso país, a população brasileira paga o pato literalmente. É apenas o lucro e a ganância dando as suas cartas.
Esses discursos vêm de quem não tem o mínimo de solidariedade para com o próximo. Sabe-se que eles terão previdência privada, que pagam planos de saúde que custam mais de 800 reais por mês, que seus filhos estudam em belas escolas e podem passar férias na Disney. Esse modelo, defendido tão aguerridamente por políticos comprometidos com o neoliberalismo, não inclui uma expressiva parcela da nossa população. Ao contrário, os separa cada vez mais de bens absolutamente imprescindíveis para a sua sobrevivência.
Enquanto as tais “reformas modernizadoras” acabam com os direitos de nossos trabalhadores, aqueles mais próximos do topo da pirâmide vivem bem obrigado e não se preocupam que o estado não possa atender os mais vulneráveis, por que eles podem pagar por aquilo que precisam. É lamentável.
Eles não devem esquecer que “Os Miseráveis” podem ser oprimidos por algum tempo, mas não por uma vida inteira. Quando a opressão e a extorsão se tornarem insustentáveis, a revanche virá. E, com certeza, não de forma amigável, infelizmente.
Até lá, continuamos vivendo com a esquizofrenia nossa de todo o dia!