Vale tudo

Outro dia li uma crônica de autoria do Mário Corso que relembrava as lutas de tele catch que lá no final dos anos 60 animavam nossas noites inocentes de domingo. Era uma armação de circo com mocinhos e bandidos, cada um com papel certo e dos quais se sabia o que esperar. Os bandidos usavam golpes baixos, judiavam dos heróis, mas ao final eram inapelavelmente derrotados.

Bem lembrou o autor, que depois veio o boxe com a fase madura de Muhamed Ali, Joe Fraser e Jorge Foreman. Por fim, não sem antes passar pelo imprevisível Mike Tuson, chegamos ao Vale Tudo, onde ser impiedoso e letal é regra. Não me peçam trocadilhos, pois não conheço os golpes ou a nomenclatura usada na luta, a qual Mario Corso, apropriadamente, definiu como rinha humana.

Pois Brasília na terça-feira foi qualquer coisa parecida com um octógono de MMA, este mix de artes marciais. De um lado, quatro senadoras de partidos de esquerda ocuparam a mesa da presidência do Senado e ali ficaram, inclusive saboreando uma quentinha. Queriam impedir a votação da reforma trabalhista. Bem, o resto se sabe. Discussão, corte de som e luzes. Interrupções, postergações e, finalmente, uma aprovação incontestável (50 x 26) da reforma. Neste tipo de contenda não há espaço para empate. Um lado leva tudo e o outro vai à lona, porque se fosse pra ter empate, melhor nem subir pra luta. Pelo menos era isto que um lado pregava, aquele lado que não quis debater e que venceu.

Agora há outras guerras pela frente: a reforma da Previdência e o caso da investigação e plausível derrubada do presidente Temer. O Planalto já mostrou que não está pra brincadeira e começou o seu vale tudo. Substitui impiedosamente deputados da comissão de constituição e justiça; pressiona pelo fechamento de questão nos partidos da base aliada e distribui muitos milhões, sob o título de emendas parlamentares, compra deputados e votos – pelo menos  dinheiro deve acabar chegando no interior do Brasil sob a forma de obras ou equipamentos hospitalares. Nesta hora o dinheiro antes escasso, brota do chão. O porblema é que se fazem isto frente aos holofotes, já sabemos do que são capazes nos gabinetes.

Criamos um novo espetáculo. Não é o telecatch, mas passa na TV e aqui  só temos uma certeza: os bandidos não serão derrotados no final. No máximo, irão pra casa com uma tornozeleira eletrônica.