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Não se engane: é a boa e velha luta de classes

Não se engane: é a boa e velha luta de classes

Ontem assisti a uma parte do circo de horrores do dia. Sim, por que acontece pelo menos um espetáculo por dia e, às vezes, mais que um.

Seria cômico se não fosse trágico ver como os lutadores alternam os discursos e os “corners”. Até pouco tempo atrás, qualquer movimento feito por Dilma era tachado pelos congressistas de “imoralidade”, “escândalo” e “descaramento”. Atualmente, as atitudes antes condenadas pelas mesmas pessoas são aceitas como “normais”, “justas” e “necessárias” para se manter a estabilidade do país. Uma lamentável vergonha.

O discurso da moralidade, da ética, dos valores se impõe como o discurso da moda, onde moralidade se traduz na independência, a ética na neutralidade e valores na justiça.

Os mesmos que criminalizam a política, jogando todos no mesmo saco, esquecem de dizer que a política é feita por homens e mulheres, que muitas vezes se escondem atrás das palavras da moda, para poder defender seus reais propósitos.

Não existe saída que não passe pela política partidária, por um projeto de governo e pela definição básica de conceitos importantes. Aqueles que bradam pela moral, pelos valores e pelo gerencialismo como modelo para o estado brasileiro defendem apenas um interesse: o das elites do pais. Esses se colocam como os ungidos por Deus para impor a sua visão de mundo aos outros. Modelo, aliás, já muito usado desde os primórdios da civilização e que custou a vida de milhões de índios, de mulheres, de negros, de judeus, etc. Para aqueles que não concordam ou não compactuam com seu modelo – a morte, a cadeia, o lixo. A real intenção de propostas como essas é a de aniquilar com outra visão que não seja a sua, é a de propor uma ditadura centrada na família, na moral e nos bons costumes (alguém lembra?), arbitrada pela religião e pela lei.

Os rounds entre moral e imoralidade, entre valores e sem valores, entre justo e injusto se sucedem. Enquanto isso, na vida real, Chico Buarque diria “tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente”. Os que não possuem dinheiro para saúde, comida, segurança e educação voltam a morrer pelas esquinas na ausência das políticas públicas.

Os que morrem um pouco no cotidiano podem esperar?  Um famoso Ministro da Fazenda da Ditadura Militar no Brasil já defendia a tese de que temos que aumentar o bolo primeiro para depois dividi-lo. Como eu disse, não existe neutralidade. Quando se olha para o que se está propõe, vemos apenas a velha e ultraconhecida visão de mundo: os opressores de um lado, os oprimidos do outro. Não se engane! A neutralidade, a independência e a moralidade são só conceitos bonitos para a imposição do velho modelo neoliberal da meritocracia. Quem não for merecedor, que morra!