Desgarrados

“Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas/ Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas/ E são pingentes das avenidas da capital/ Eles se escondem pelos botecos entre cortiços/ E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias/ E então são tragos, muitos estragos, por toda a noite”

Esta letra linda e vencedora de califórnia da canção é de Mário Barbará. Por trás da poesia e da linda melodia que lhe foi agregada há uma triste realidade cada vez mais presente em nossas vidas.

Um apelo desesperado em rede social esta semana me chamou a atenção: uma lojista dizendo que não aguenta mais limpar ou mandar limpar a calçada em frente ao seu estabelecimento, emporcalhado por fezes e urina de mendigos e sem teto que passaram a noite sabe-se lá aonde e com quem, mas que descarregam suas necessidades fisiológicas em plena calçada, acobertados pelo breu da noite e pela falta de compromisso com o que é de todos.

Vejam que diante do descaso da sociedade para com estes desvalidos, parece até uma bobagem e um pormenor apenas “chato”, ter que lhe dar com os excrementos humanos. Mas também cabe convir que cada um com seus problemas. O problema do lojista é ter o acesso ao seu estabelecimento em ordem. Não seria nem de exigir que os garis fizessem tal limpeza. O importante mesmo e que não cheguemos ao nível da cracolândia em SP. Que se consiga administrar a questão dos sem teto antes que o caso vire endêmico.

O clamor da lojista é neste sentido mesmo: será que ninguém vai tomar uma providência? O que estará fazendo a Secretaria de assistência Social? Onde estão as famílias destas pessoas? Como impedir que o crack e o álcool tomem conta da vida destas pessoas às quais familiares e autoridades já viraram as costas?

O certo é que este não é um problema local, ele existe em cidades de todo o mundo e quanto maior a cidade mais fria, mais este tio de situação se reproduz. É um problema de todos com consequências diferentes para cada um. O problema do morador de rua é exatamente este, não ter eira nem beira, ser um excluído. O problema do cidadão é com os dejetos indesejados à sua porta. E o poder público está entre ambos com a obrigação de resolver a contento.