Opinião

A volta do canarinho-da-terra e outros bons sinais

A volta do canarinho-da-terra e outros bons sinais


foto/Tatiana Regada

A notícia é boa para o editor ou para quem a transmite quando causa impacto. Porque só aquilo que nos tira da comodidade é que parece ter a capacidade de reverberação muito potente. De certa forma fica aí explicada aquela pergunta a qual frequentemente sou convidado a responder: por que jornais e a mídia só noticiam coisas ruins.

E é assim também, em grande parte, que se explica o mecanismo das redes sociais que funcionam na base da recompensa: publique algo novo, diferente e interessante e os likes, compartilhamentos e comentários chegam rapidamente à casa dos k (milhares).

Mas hoje não é de morte, prisão ou corrupção, que quero falar. Entramos na semana que precede o Natal e quero falar de pequenos sinais que mostram porque é possível ter fé na humanidade. Por exemplo, voltei a enxergar canarinhos-da-terra (https://g1.globo.com/natureza/noticia/conheca-o-canario-nativo-do-brasil-que-e-pistola-na-vida-real-e-mais-bravo-que-o-canario-belga.ghtml) voando livres aqui e acolá. Eles são de um amarelo tão lindo e lembram minha infância quando os guardávamos em gaiolas. Um egoísmo e tortura que só depois de muitos anos fomos entender o quão errada era esta prática. Posso estar sendo inocente, mas nunca mais vi Canario-da-terra em gaiolas e voltei a vê-los com boa frequência soltos ao redor de praças ou no interior. Até uma Saíra de sete cores voltei a enxergar. Só pode ser porque paramos de prendê-los em gaiolas e eles voltaram a se reproduzir livremente.

O cigarro: não se vê mais filmes em que os personagens fumam – Fauda, da Netflix, um bom seriado que aborda a questão árabe/sionista, é uma exceção (https://www.netflix.com/br/title/80113612). Mesmo nas ruas, nos bares, nas escolas, fumantes se tornaram seres da resistência. Não são excluídos nem taxados de párias, mas já não são muitos, nem considerados charmosos.

O buraco na camada de ozônio é outro exemplo. Era uma preocupação constante e medidas foram necessárias e adotadas. Agora já há sinais claros desta reversão, goste Donald Trump ou não (https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/01/o-buraco-na-camada-de-ozonio-esta-diminuindo-afirma-nasa.html).

É claro que existem muito mais más do que boas notícias. Matéria exibida pela TV neste final de semana mostra que caçadores de javalis ( que virarm praga aqui no sul) aproveitam a licença para matá-los e atiram em tudo o que se mexe. É um desvirtuamento. Uma volta ao assado de subsistência quando esta era a forma de sobreviver. Hoje virou esporte, em muitos casos um esporte sádico. Mas gosto de pensar que em pequenos gestos e sinais é possível acreditar que vamos encontrar solução para nossa continuidade na terra.

Vejo o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmar que a pena de morte não está na pauta de seu mandado. Ora, vindo de alguém reconhecidamente de posições conservadoras e à direita n espectro ideológico, esta é uma excelente notícia. Digno de ser mencionado como sinal de crença na humanidade. Calma, também penso que há casos em que a pena de morte deveria ser aceita. Especialmente em crimes hediondos. Mas sabemos que no Brasil as coisas facilmente escapam de sua concepção original e a exceção acaba virando regra.

Viva a volta dos canarinhos e do João de Deus, uns soltos outro na gaiola E tomara que apareçam logo o Battisti e o Queiroz, temos gaiola para ambos.