Com produção de orgânicos em alta, Feira Ecológica completa 20 anos em Caxias

A preocupação com a saúde está mudando os hábitos de alimentação de parte da população brasileira. Segundo dados divulgados pelo Sebrae, o mercado de orgânicos registra um crescimento de aproximadamente 20% ano no país. Na Serra Gaúcha, também há uma expansão dos negócios: já são mais de 400 propriedades certificadas para produzir os alimentos sem o uso de agrotóxicos. A região é responsável por 12% da produção estadual.

Em meio a esse crescimento, a Feira Ecológica completou 20 anos de atuação em Caxias do Sul. Desde 1998, produtores de Caxias do Sul e região tem um encontro marcado com os consumidores aos sábados no bairro São Pelegrino. A feira começou no Largo da Estação Férrea, na rua Dr. Augusto Pestana, mas há dois anos é realizada na Praça das Feiras. Atualmente, a feira conta com produtores de Caxias, Ipê, Bom Princípio, Antônio Prado, Montenegro, Nova Roma do Sul, Torres e Nova Petrópolis, que comercializam frutas, verduras, grãos, temperos, chás e outros produtos fresquinhos. Além disso, há itens artesanais ou elaborados nas agroindústrias, como geleias, chimias, pães, biscoitos e sucos.

Um dos fundadores da Feira Ecológica é o produtor Devir Brancher Rossi, que tem uma propriedade em São Giácomo da 9ª Légua, no interior de Caxias. Ele se orgulha de levar produtos de qualidade e sem agrotóxicos há duas décadas para a mesa da população caxiense. “Essa feira aqui não é uma feira, é uma família. O que não serve pra gente não serve para o consumidor também. Então é assim, a feira orgânica vende o produto saudável, que não enriquece a pessoa, mais enriquece a saúde. E acho que não há dinheiro que pague a saúde”, garante.

(Foto: Ricardo de Souza/Grupo RSCOM)

Para Brancher, é possível perceber uma mudança de postura da população em relação à alimentação. Segundo o produtor, a alta incidência de produtos químicos na produção dos alimentos pode trazer danos à saúde e isso está contribuindo para a valorização da produção orgânica. “O pessoal está vendo as pessoas morrer de câncer e se preocupando com a alimentação. Os agrotóxicos são uma bomba e as pessoas estão se conscientizando”, acredita.

Outra família tradicional na Feira Ecológica de Caxias é a Tondelo, de Antônio Prado. Jaíne e Jonas Tondelo, filhos de José Tondelo, dão sequência ao trabalho iniciado pelo pai, lá em 1998. “Eu lembro que a gente até chorava pra vir junto. Agora o pai fica por casa e nós mais novos estamos assumindo todo sábado”, recorda Jaíne, que está com 24 anos.

O irmão dela, Jonas, acredita que o comércio na feira tem muitos diferenciais, mas faz questão ressaltar a relação estabelecida entre consumidor e produtor. “Eu acho fundamental é a relação produtor e consumidor. Você está falando direto com o consumidor final, sem ter o atravessador. Não por uma questão de ganhos financeiros, mas para dar a oportunidade do consumidor saber do que ele está se alimentando”, diz.

(Foto: Ricardo de Souza/Grupo RSCOM)

O caso da família Tondelo, de Antônio Prado, também chama a atenção pela forma natural em que a sucessão ocorreu. Jonas reconhece, no entanto, que muitos jovens estão deixando a vida no campo pela falta de oportunidades. “A sucessão rural precisa ser muito discutida. Porque tem muito jovem que está saindo, e não é culpa do jovem. Eu acho que falta um incentivo dos pais, um incentivo financeiro, de ele ter a oportunidade de tocar o negócio. Tem muita gente que está saindo do interior, e é um problema que precisa ser discutido”, argumenta.

Estreante

Após dois anos de preparação na propriedade rural da família em Vila Seca, Rodrigo Bogo levou os produtos pela primeira vez à Feira Ecológica no último sábado. A iniciativa de produzir produtos orgânicos partiu dele e enfrentou resistência de parte da família, que ainda cultiva a uva na forma convencional. Apesar disso, o negócio avançou e a expectativa é de que nos próximos toda a produção seja de orgânicos. “Foi uma quebra de tabu. Dentro da família a gente ainda produz a uva bordô convencional, mas com o mínimo possível de intervenção química. E a gente trabalha fazendo a transição para daqui uns anos ter as uvas orgânicas”. Para Bogo, a saúde teve papel primordial na decisão. “Eu sinto que aquilo lá, por menos que encoste na pele, está indo para o organismo. Então quanto menor o contato com essas coisas maior é a probabilidade de ter uma vida tranquila”, opina.