Opinião

O vereador com pijama de flanela

O vereador com pijama de flanela

Entre idas e vindas, faz mais ou menos 30 anos que acompanho os trabalhos na Câmara de Vereadores. Conheci funcionários, CCs, vereadores de sete legislaturas. Uns mais instruídos, outros mais do povo. Vi gente que entrou como mais votado não se reeleger na eleição seguinte. Quem era revolucionário fora se acalmar depois de entender “como é que as coisas funcionavam”. Vi gente perdendo todos as FGs porque o presidente quis fazer média com o Prefeito; gente sendo injustiçada e alguns que dividiam o salário com o vereador a quem servia.

Em dado momento até cheguei a pensar que por ser um ambiente pluripartidário, com várias bancadas e, portanto, democrático, poderia ser um bom local para trabalhar. Aí fui conversar com alguns veteranos e aprendi que não é bem assim. Aliás nem para os vereadores é o mais saudável dos ambientes. Há interesses de todas as cores e tamanhos. Meio perfeito para proliferar a perfídia.

Mas, com todo este convívio, acaba-se gostando das pessoas e o que vi ontem foi um clima de perplexidade. Vereadores e funcionários – pelo menos a maioria – estavam assustados. Nem digo que não devessem. Se há algo a apurar que se apure.

Quatro vereadores tiveram a casa e os gabinetes revirados. Um se abateram mais que outros, ou por se sentirem injustiçados ou por temerem o braço longo e pesado da Justiça.

O relato de um dos vereadores que me pediu para não ter seu nome declinado, apenas para que se tenha a medida do que aconteceu: “É uma sensação horrível. Eu estava com pijama de flanela, às oito horas da manhã. Foram cinco pessoas da polícia e buscaram documentos em todas as peças da casa. Tenho muitos documentos em caixas na garagem. Numa delas havia vários pen drives. Nem sei direito o que tinha dentro, mas fizeram cópia de tudo. Reviraram. Levaram o celular. Fizeram bakcup do computador. Foram duas horas e meia de procura. Por fim a agradeci a eles. Estou aliviado. Sei que nada vai pesar contra mim”.

Quero crer que para o MP ter feito esta operação, a de 165 (alusão ao número da emenda ao Plano Diretor que teria sido motivo para possível promessa de pagamento de propina para sua aprovação) tivesse fortes indícios de crime. Buscava apenas elementos para comprová-los com base nos depoimentos até então recolhidos.

O fato é que em dias de redes sociais, de interatividade, de gravadores embutidos nos celulares, não há o que se possa fazer, a não ser ter prudência e manter-se estritamente dentro dos limites da moral e dos bons costumes. Esta semana vimos uma apresentadora de TV parar de ler a notícia porque seu telefone tocou e um vereador ser apanhado de pijaminho de flanela em plena segunda-feira de manhã. Quanto mais se viu e verá, só o tempo ou o Ministério Público dirão.