Eventos Climáticos

Um ano de desafios e esperança: Serra Gaúcha após a maior tragédia climática do RS

“Começou a chover por vários dias. Muita, muita chuva. No dia 1º de maio meu filho estava de aniversário e nós saímos durante o dia. Quando voltamos, ainda pela tarde, já tinha caído uma barreira na BR-116. Aqui ainda não tinha caído nem um pedaço de terra. Então, entramos em casa. Escureceu e fomos dormir. Mas continuou chovendo, bem forte…”

Patrícia da Silva Rosa lembra com pesar os detalhes do dia em que tudo mudou para ela e sua família, enquanto o olhar percorre o matagal onde, um ano atrás, estava a rua da sua casa, no bairro Galópolis. Ela relembra que, às duas horas da manhã do dia 02 de maio, recebeu uma ligação da irmã, contando que o rio que passava ao lado da casa dela subia rapidamente e ela que não tinha como sair de casa. Em seguida, quem ligou foi sua mãe, avisando que metade de uma casa havia desabado perto da residência dela, e que uma senhora havia caído no rio.

“Enquanto minha mãe me contava isso, escutamos uns barulhos em cima da nossa casa. Eram uns barulhos muito fortes. Perguntei ao meu marido o que era aquilo. Naquele momento, a casa movimentou. A casa toda”, conta.

A confusão foi rapidamente substituída por pânico, com o filho do casal pedindo socorro.

“Uma parede caiu em cima da cama dele. Meu marido conseguiu tirá-lo dali. Eles saíram junto com a minha filha mais velha, que estava dormindo também. Peguei a minha filha pequena, de 5 anos, e saímos correndo para o andar de baixo”.

A família percebeu então que o seu lar já não era mais seguro. Patrícia pegou as chaves do seu salão de beleza e o celular. Ao chegar na garagem, o medo se instalou novamente. O portão de ferro havia sido entortado pela força da terra, que entrava na garagem. A solução foi empurrar a janela da cozinha, também já deformada, e pular para fora da casa, na tentativa de encontrar um local seguro.

Foto: Patrícia da Silva Rosa/Arquivo Pessoal

“Olhamos para a casa da vizinha, que ainda estava em pé, mas já tinha rachaduras muito largas. Então voltamos correndo para o outro lado. Fomos pelo meio do mato e conseguimos chegar na casa de um parente. E quando chegamos, todo o resto caiu por cima da nossa casa. Foi só o tempo da gente sair.”

Destroços do carro da família, soterrado pelo deslizamento | Foto: Patrícia da Silva Rosa/Arquivo Pessoal
Local onde estava a casa de Patrícia | Foto: Marina Tusset/Grupo RSCOM

Sete pessoas morreram em decorrência deste deslizamento, incluindo familiares de Patrícia que moravam na mesma rua. Outras duas pessoas morreram devido à tragédia na cidade: um funcionário da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), após um deslizamento que destruiu a usina de asfalto e o britador municipal; e uma senhora de 80 anos, cuja casa foi atingida pela cheia do arroio Pinhal. Ela foi levada pela enxurrada e, até hoje, seu corpo não foi encontrado.

Destroços da casa da senhora 80 anos que foi levada pela enxurrada | Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM
Deslizamento de terra no complexo do britador do município | Eduardo Rocha

Laudos técnicos para apontar soluções

Segundo a Defesa Civil de Caxias do Sul, a partir de um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a cidade contabilizou cerca de 650 pontos de deslizamentos de terra durante os dias de catástrofe. Foram registrados 420 mm de chuva em dois dias, mais que o triplo da média histórica para o período, que é de 130 mm.

Apesar da dimensão da tragédia, a Defesa Civil do município avalia o balanço das ações realizadas pelo órgão como positivo. Segundo o tenente da Defesa Civil de Caxias do Sul, Armando da Silva, o evento serviu como um aprendizado importante para corrigir erros e melhorar a resposta em situações futuras. Ele afirma que o volume de chamados triplicou no período, forçando a equipe a priorizar casos críticos.

Um dos maiores desafios enfrentados pelas equipes de resgate foi a evacuação realizada no entorno da represa Dal Bó, no bairro Fátima, durante a madrugada de 02 de maio de 2024, após a constatação do risco de transbordamento da barragem. Na ocasião, agentes de segurança utilizaram megafones para solicitar que a população local deixasse suas residências e buscasse abrigo.

Além disso, segundo o tenente, um dos principais pontos observados durante a resposta ao desastre foi a distância entre o planejamento formal e a execução prática das ações de emergência. Diante disso, a Defesa Civil de Caxias do Sul iniciou treinamentos periódicos com as equipes. A intenção é que esses encontros sejam realizados mensalmente, para reforçar o passo a passo previsto no plano.

“Uma coisa é estar definido ali no documento como se faz. Outra coisa é as equipes se olharem no momento da catástrofe e estarem treinadas para executar aquilo que o documento prevê”, ressaltou.

Outro ponto destacado pelo tenente é a importância de capacitar moradores de áreas de risco para atuarem de forma preventiva em situações de desastre. A proposta da Defesa Civil é realizar treinamentos sobre rotas de fuga e autossalvamento, mas a execução depende da conclusão de um estudo do Serviço Geológico Brasileiro, previsto para ser divulgado nas próximas semanas, que identificará as zonas seguras e vulneráveis da cidade.

Galópolis: um ano depois

Um ano após as chuvas incessantes, a localidade de Galópolis segue se reerguendo, com 30 pessoas ainda fora de casa. Para auxiliar neste processo, a prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), encomendou um estudo de mapeamento de áreas de risco da região a uma empresa privada. Segundo a Defesa Civil municipal, a partir do laudo, a corporação poderá traçar um plano de ação para a localidade.

“Esse estudo vai nos dizer quais são as ações que a gente vai ter que buscar para tornar Galópolis segura. Ou também, esse estudo pode apontar que Galópolis não tem condições de se tornar segura. Aí haverá a questão de realocação da comunidade”, afirma Armando.

Investimento para mitigar novas tragédias

Em entrevista à reportagem, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, afirmou que a tragédia deixou uma marca profunda nos caxienses. Para ele, até hoje, qualquer sinal de temporal gera apreensão, tanto entre gestores quanto entre moradores, e afirma que a tragédia influenciou as ações da prefeitura para preparar a cidade para novos desastres.

Como resposta, o Executivo lançou um pacote de obras somado em cerca de R$ 180 milhões, que inclui a construção de seis grandes piscinões e o túnel de drenagem na rua Matteo Gianella, como forma de mitigar os efeitos de chuvas intensas. Adiló destacou os esforços para a desobstrução de 137 trechos bloqueados em estradas no perímetro do município, além dos trabalhos de desassoreamento de rios da cidade, em parceria com o programa Desassorear RS, do governo estadual.

Outra iniciativa é o investimento em tecnologias de prevenção, como uma estação meteorológica no distrito de Criúva e a implantação de um projeto regional anti-granizo, com adesão de pelo menos 11 municípios da Serra Gaúcha. Essas ações visam tornar a cidade mais resiliente diante de eventos climáticos extremos.

Contudo, um dos maiores entraves enfrentados pela administração municipal tem sido a insuficiência dos valores repassados pelos governos estadual e federal. Apesar de ter cadastrado projetos junto ao governo federal, o montante recebido até agora representa pouco mais da metade do solicitado. Adiló afirma que reconhece o esforço dos governos estadual e federal, mas destaca que as demandas de Caxias não foram plenamente atendidas.

“Até agora foi solicitado R$ 19.7 milhões e foi liberado R$ 8,2 milhões. Mas a gente não despreza e não fica criticando. Eu sei que o gasto do governo federal e do governo estadual foi uma coisa abismal aqui no Estado e, ao mesmo tempo, eles tiveram uma seca severa no norte e deslizamentos em outras partes do país”, afirma.

Por este motivo, o município optou por prorrogar a vigência do estado de calamidade pública, visando permitir maior agilidade nos processos de contratação de obras, por exemplo. O prefeito salienta que essa medida é fundamental para dar continuidade às intervenções, já que os repasses não cobrem todas as frentes de trabalho necessárias. Mesmo com orçamento limitado, a gestão garante que seguirá realizando as obras de forma gradual.

Burocracia e obstáculos no recomeço

Nos dias que se seguiram à tragédia, o apoio mais imediato veio da própria comunidade. Patrícia relata que pessoas de diferentes lugares – de Caxias do Sul, de outros estados e até mesmo de fora do Rio Grande do Sul – se mobilizaram para enviar doações. Amigos, clientes do seu salão e vizinhos se organizaram para garantir roupas, móveis, alimentos e abrigo para ela e sua família. Patrícia afirma que a comunidade da sua igreja e a empresa onde seu marido trabalha foram fundamentais no socorro inicial. Um galpão foi cedido para armazenamento de doações, e familiares também abriram suas casas e garagens para acolher o que pôde ser salvo. Essa corrente de solidariedade foi essencial para garantir dignidade às vítimas nos primeiros dias após o desastre.

Do poder público, Patrícia recebeu auxílio financeiro emergencial: um benefício federal de R$ 5.100 e quatro parcelas de um salário mínimo oferecidas pela prefeitura. No entanto, a continuidade do suporte foi limitada. Classificada como pertencente ao “nível 3” nos critérios de assistência do município, sua família ficou de fora dos programas habitacionais que garantiriam um subsídio integral de R$ 200 mil para aquisição de nova moradia.

A maior frustração, segundo Patrícia, é que os critérios desconsideram a realidade das famílias que, mesmo com renda, perderam tudo. Apesar de ela, o marido e a filha mais velha trabalharem, o valor combinado de seus salários não representa estabilidade financeira, especialmente após uma perda total. Para ela, o sistema falha ao penalizar quem tenta se reerguer por conta própria.

A tentativa de acessar o benefício de R$ 200 mil para compra de imóvel foi frustrada por exigências burocráticas. Patrícia foi informada de que, por estarem na classificação de nível 3, só poderiam financiar um imóvel por meio da Caixa Econômica com subsídio de R$ 40 mil. Além disso, a família teve dificuldades para aprovar o crédito, pois a renda formal da filha e o MEI de Patrícia não foram considerados válidos para o financiamento.

Esse cenário, segundo ela, revela um sistema excludente. Apesar de pagarem impostos, manterem o trabalho e jamais atrasarem o IPTU, agora enfrentam barreiras que dificultam o acesso a políticas públicas justamente quando mais precisam. “É muita burocracia para conseguir o que é de direito”, resume.

Patrícia e a filha mais velha, Larissa | Foto: Marina Tusset/Grupo RSCOM

Chuvas devastadoras deixaram mortos, desaparecidos e rastro de destruição em Bento Gonçalves e região

Entre 22 de abril e 6 de maio de 2024, a cidade de Bento Gonçalves e municípios vizinhos viveram um dos períodos mais críticos da história recente. Em apenas duas semanas, foram registrados 675 mm de chuva. Deslizamentos atingiram áreas urbanas e rurais, com destaque para Faria Lemos, Tuiuty e Linha Buratti.

Deslizamento de grandes proporções em Faria Lemos. (Foto: Patrick Alessi/Grupo RSCOM)

A Defesa Civil do RS confirmou a morte de 11 pessoas, além de quatro desaparecidos que continuam sem localização até hoje. Mais de 1.150 resgates foram realizados, muitos em operações de alto risco, envolvendo helicópteros e equipes que cruzaram regiões completamente isoladas por deslizamentos. A destruição se estendeu a pelo menos 71 imóveis, e a infraestrutura foi severamente abalada. Pontes ruíram e vias como a ERS-431 e a BR-470 permanecem em reconstrução.

Resgates

Para dar resposta à crise, o poder público montou uma base de operações no distrito de Faria Lemos, equipada com assistência médica, alimentos e apoio psicológico. A missão foi coordenada por bombeiros, forças de segurança e centenas de voluntários.

O Capitão Gustavo Kist, 32 anos, da 3ª Companhia Especial do Corpo de Bombeiros Militar do RS, destacou a gravidade da situação. Ele relatou que um dos momentos mais tensos aconteceu em Faria Lemos, quando uma ambulância quase foi atingida por um novo deslizamento.

Foto: Patrick Alessi/Grupo RSCOM
Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

O acesso às comunidades foi um desafio à parte. Em locais como Imaculada Conceição, os bombeiros tiveram que atravessar mais de dez barreiras rompidas para chegar até os moradores. Segundo Kist, a falta de apoio aéreo nos primeiros dias dificultou a logística. O reforço veio com a chegada de bombeiros de 16 estados brasileiros, sob coordenação da Liga Bom. Com eles, também chegaram tecnologias como drones, binômios (cães farejadores com seus condutores), sonares e escavadeiras.

Para Kist, a operação foi um verdadeiro teste de resistência física e emocional, exigindo comprometimento absoluto de todos os envolvidos.

“Ser bombeiro é assumir o risco e, mesmo assim, agir de forma técnica para resguardar e proteger a população”, concluiu, refletindo sobre os 77 dias de operação.

Vicente Tomasi. Foto: Arquivo pessoal

A participação dos voluntários foi essencial. Trilheiros e jipeiros, como Vicente Tomasi, empresário e membro do Trail Clube Bento Gonçalves (TCBG), enfrentaram riscos extremos para auxiliar nas buscas.

“O que vivemos ali foi um exemplo da força que a nossa comunidade tem em situações como essa. A tragédia nos uniu de uma maneira muito forte”, afirmou.

Vicente relembra que deslizamentos bloquearam as trilhas conhecidas, árvores tombadas impediam o avanço a pé e, em muitos trechos, a única solução foi aguardar os helicópteros.

Dor e resiliência: a história de Igor Longaray

Entre as vítimas da tragédia está Alice Estivalet Santos, de 21 anos, funcionária da Cachaçaria Casa Bucco, e seu pai, Anilton de Oliveira Santos, de 60 anos. Ambos morreram soterrados por um deslizamento em Tuiuty, enquanto buscavam roupas para ajudar uma família desabrigada. Igor Longaray, esposo de Alice, escapou por estar em outro ponto da propriedade no momento do desastre.

Mesmo diante de uma perda inimaginável, Igor decidiu seguir em frente. Em meio ao luto e à dor, encontrou forças para manter o legado de Alice e Anilton vivo. Em agosto de 2024, apenas três meses após a tragédia, ele fez questão de estar presente na Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias do Brasil, representando a Casa Bucco.

Foto: Jürgen Mayrhofer/Secom-RS

Para Igor, sua participação foi uma maneira de honrar a memória de sua esposa e de seu sogro, que tanto se dedicaram à cachaçaria.

“Eles sempre serão parte de mim. O amor, o carinho e a dedicação deles estão vivos no meu coração, e é isso que vou levar comigo pelo resto da minha vida”, declarou.

Veranópolis

A gravidade dos eventos também atingiu Veranópolis, onde um levantamento da NASA Disasters, realizado entre 8 e 9 de maio, identificou 3.934 pontos de deslizamento em 99 municípios do Rio Grande do Sul. Veranópolis lidera o ranking com 270 pontos e Bento Gonçalves aparece logo em seguida, com 229.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: PRF/Divulgação
Foto: PRF/Divulgação

A região da Serra das Antas, na divisa entre os dois municípios e cortada pela BR-470, foi duramente afetada. A rodovia ficou totalmente bloqueada por dois meses e segue operando em sistema de comboio entre os km 185 e 202, devido a trechos críticos e mais de 60 pontos de intervenção. O investimento do governo federal na recuperação ultrapassa R$ 500 milhões.

Santa Tereza

O município de Santa Tereza também foi duramente castigado, acumulando eventos extremos consecutivos. Em setembro de 2023, uma enchente histórica elevou o Rio Taquari a 23,65 metros, superando em quatro metros o recorde anterior. A cidade foi 80% inundada.

Menos de três meses depois, em novembro, outra cheia agravou os danos ainda não reparados. Em 2024, outro episódio voltou a colocar a cidade de baixo da lama, consolidando um ciclo dramático de destruição e reconstrução.

Estragos no interior, crateras no asfalto e reconstrução: como Farroupilha tenta superar os estragos causados pela enchentes de 2024

O município de Farroupilha também foi bastante afetado pelos eventos climáticos de 2024. Na cidade, várias pontes acabaram sendo danificadas, assim como estradas do interior e rodovias, caso da ligação com Porto Alegre pela ERS-122, ou com sentido a Bento Gonçalves na RSC-453.

Com o alto volume de chuva, centenas de hectares de produção foram perdidos. Uma das famílias afetadas foi a Barbanti, história que o Portal Leouve contou no mês de junho do ano passado. Próximo a residência, na comunidade de São Roque, 4º Distrito, um parreiral de uva bordo de aproximadamente um hectare acabou sendo derrubado, gerando um prejuízo aproximado de R$ 40 mil.

Lucia Servelin Barbanti, hoje com 60 anos, contou como está a situação do cultivo de uva da família nos dias atuais.

“Na nossa propriedade onde a gente perdeu a parreira devido ao movimento da terra, a gente ainda não conseguiu mexer. O tempo não permitiu e depois a gente teve a safra da uva, mas a gente já está encaminhando os papéis para conseguir uma máquina e retirar tudo. Desmanchar tudo, colocar o maquinário e limpar o terreno ali”.

Propriedade da família Barbanti (Foto: Eduardo Garcia/Grupo RSCOM)

Com a proximidade do mês de maio é inevitável que as memórias do que ocorreu no último ano apareçam, no entanto Sônia disse que não se pode conviver com isso para sempre.

“A gente vive através do medo, quem não tem medo, medo a gente sempre tem, mas a gente não pode conviver sempre com isso. Daqui pra frente quando a gente mexer lá e limpar, deu. O medo a de passar, a gente vai fazer pra não acontecer mais e pronto. Temos que pensar nisso, mas pode acontecer de novo”.

Foto: Eduardo Garcia/Grupo RSCOM

Mesmo com todas as dificuldades, a família Barbanti mantém a fé em dias melhores.

“O que nos move é a esperança, a fé de continuar. É como eu te falei naquela época, no primeiro momento tu senta e chora, literalmente, mas depois tu olha ao redor e vê que tem coisas muito piores. A gente se uniu, tentou focar em muitas coisas e começou de novo. O que nos mantém de pé é a fé”, concluiu.

Frentes de trabalho e formas de prevenção

O atual prefeito de Farroupilha, Jonas Tomazini (MDB), estava na condição de vice quando houve o desastre climático. Quase um ano depois, ele relembrou o que já foi feito neste período.

“Nós temos diversos estágios da reconstrução aqui no município, alguns que já foram concluídos como o morro da Busa na estrada Luiz Victório Galafassi. Tivemos pontes nesta região, recapeamento asfáltico e contenções realizadas, ainda em 2024 a contenção da Linha 80 e um talude grande já finalizados.

Prefeito de Farroupilha, Jonas Tomazini (Foto: Eduardo Garcia/Grupo RSCOM)

“2025 ainda vai ser um ano muito marcado por esta questão de reconstrução, reestabelecimento e também de prevenção aqui no nosso município”

No entanto, diversas frentes de trabalho ainda estão ocorrendo em virtude da tragédia climática, inclusive tentando de certa forma prevenir novos incidentes.

“Ainda temos obras em execução, como a drenagem pluvial que está sendo feita no bairro Nova Vicenza, investimento superior a R$ 2 milhões. Em muito casos o buraco tem quase 10 metros até chegar no local estável e colocar a tubulação que tem 1,5 metro de diâmetro o que já nos deixa preparados para novas situações que podem acontecer”, disse ele.

Algumas obras licitadas estão aguardando a confirmação da Defesa Civil Nacional para serem executadas, entre elas as pontes na Linha Caçador e Machadinho, e outras que ainda vão ser encaminhadas para licitação, como a recuperação da estrada na Linha São Miguel, recuperação de talude na estrada para Salto Ventoso e também a recuperação de talude na Linha 7 de Setembro.

“Foi o momento mais difícil da minha vida pública”

Governador Eduardo Leite e a prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo. Foto: Diego Pereira/Grupo RSCOM

Passado um ano da maior tragédia climática enfrentada pelo Rio Grande do Sul, o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), acrescenta que o fato foi também o maior da história climática do país em número de municípios atingidos, população impactada e prejuízos econômicos.

Questionado sobre a maior dificuldade enfrentada, Leite aponta a escala da tragédia, com danos simultâneos em centenas de municípios com prejuízos em habitação, infraestrutura, mobilidade, saúde, segurança, dados e sistemas do próprio Estado. Explica que a capacidade de resposta exigiu articulação constante, agilidade e decisões sob forte pressão.

As cenas vivenciadas na época até hoje não saem da memória do governador. Ele cita as imagens das famílias nos telhados, mas também lembra da solidariedade do povo gaúcho.

“Foi o momento mais difícil da minha vida pública. As imagens de famílias nos telhados, de cidades submersas, da ameaça de perdermos os principais hospitais da capital por causa da subestação de energia alagada são marcas que não vão sair da memória. Mas também vi o melhor do povo gaúcho. A solidariedade, os voluntários, a união em torno do essencial. Sofremos juntos, mas reagimos juntos”.

Leite reconhece que os problemas ainda não foram superados completamente, mas que houve avanços importantes com a recuperação de estradas, entrega de novas pontes e de moradias temporárias. Pontua que a constituição de um sistema de resiliência real, capaz de proteger o Estado de eventos climáticos futuros, é um desafio de longo prazo junto com a certeza de que se precisa governar com senso de urgência diante das mudanças climáticas.

“O PIB voltou a crescer. Mas há um caminho pela frente. Nenhum país do mundo estruturou isso em menos de uma década. Seja nos Estados Unidos após o Katrina, seja nos Países Baixos ou no Japão, a criação de diques, sistemas de drenagem, estações de bombeamento e alertas de precisão exigiram entre dez e quinze anos. E é esse caminho que estamos iniciando, com planejamento, projetos técnicos e recursos garantidos”.

Relembrando as ações imediatas do Estado diante do ocorrido, Leite conta que logo nos primeiros dias o governo atuou com foco no atendimento emergencial, na articulação com os municípios e no socorro às famílias.

“Montamos abrigos, salvamos vidas, garantimos logística, energia e alimentação. Mas sabíamos que isso era só o começo”, relembrou.

Atuação

De forma paralela, cita que foi estruturado o Plano Rio Grande, que organizou a resposta em quatro eixos: emergência, reconstrução, preparação e resiliência. Além disso, um acordo foi firmado com a União que garantiu ao Estado a suspensão do pagamento da dívida federal, redirecionando cerca de R$ 14 bilhões para obras e ações de reconstrução.

O governador do Rio Grande do Sul também relata que o Estado está mudando a forma de pensar e agir em relação ao clima. Novos radares meteorológicos fora adquiridos e outros três estão em processo de contratação. Além disso, está sendo criado o Centro Estadual de Gestão de Riscos e Desastres e estruturado um centro internacional de estudos climáticos. Também foram financiados planos diretores em municípios fortemente atingidos, para reorganizar o crescimento urbano com base em áreas seguras. Leite explica que as reconstruções estão sendo feitas com base no que aconteceu, pensando no futuro. A nova ponte sobre o Forqueta, entre Lajeado e Arroio do Meio, por exemplo, foi elevada em cinco metros e ganhou mais de cinquenta metros de extensão.

Foto: Diego Pereira/Grupo RSCOM

Serra Gaúcha

A Serra Gaúcha sofreu com alagamentos, deslizamentos, isolamento de comunidades, perda de vidas e graves prejuízos à economia e ao turismo. Os trabalhos na região foram coordenados pelo chefe da Casa Civil, Artur Lemos.

Leite relata que o governo do Estado atuou de forma direta com as prefeituras da região, enviando recursos emergenciais, apoiando a Defesa Civil e organizando a retomada de serviços essenciais. Cita que foram destinados recursos para recuperação da agricultura familiar e das pequenas empresas e feita a reconstrução de estradas e pontes.

Instigado a deixar um recado para a população da Serra Gaúcha um ano depois, Eduardo Leite diz que a mensagem é de respeito e gratidão. Comenta que a região passou por perdas profundas, enfrentou o luto, a dor e a incerteza. Mas mostrou uma força impressionante, sendo símbolo de resiliência.

“Quero dizer que o Estado está presente, está trabalhando e vai seguir ao lado da região em todas as etapas da reconstrução. Já temos obras em andamento, moradias provisórias entregues, casas definitivas em construção. Estamos juntos nesse caminho, não só para reconstruir, mas para construir algo melhor e mais seguro. A Serra Gaúcha é símbolo de resiliência, de tradição e de esperança. E é com essa energia que vamos seguir em frente”.

Da mesma forma que o nível em que a água subiu ficou marcado na vegetação e nas paredes, as histórias de quem ajudou e quem foi ajudado, as perdas e as ações de enfrentamento, ficaram marcadas na história do Rio Grande do Sul.

Mudanças climáticas

Estudos já indicam que novos episódios climáticos intensos devem ser registrados devido às mudanças climáticas no planeta. Que a sociedade entenda a importância de cuidar do meio ambiente e que o poder público construa meios de enfrentamento e prevenção. Que a enchente de maio de 2024 possa, por fim, ser marcada pelo aprendizado, para que a tragédia vivenciada jamais se repita.

Diego Pereira and Marina Tusset and Eduardo Garcia and Patrick Alessi

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