Opinião

Geopolítica do Natal

E chegou o dia, de se reunir com a família, ou fugir dela, fica ao gosto do freguês.

Já falei em outra coluna, e todo mundo já viu acontecer: Depois que os patriarcas morrem a família se divorcia, outros núcleos familiares se formam e ninguém mais se reune como antes nas festas de final de ano.

Em tempos de guerras, internet, algoritmo e faca nos dentes nos grupos de família, por questões que vão desde politica até quem ficou com a toalha bordada da vó Candinha ou o quanto o vô poderia ser rico se aquele tio-avô-cunhado não tivesse passado a perna nele, a véspera e o dia de Natal prometem. No ano novo não tem isso porque já vai estar todo mundo brigado mesmo.

E uma guerra não começa assim, do nada. Os meses que antecedem o dia D das festas de final de ano começam muito antes, desde a escolha do local, o dia, os convidados, quem leva o que, se vai ter presente, o valor, porque naquele ano né, a tia comprou um presente de 299,90 e ganhou um de 1,99. Quem vai se vestir de Noel fica a cargo do sorteio entre o mais cheio de calorias, menos desmascarável e que vai fazer todo mundo rir e as crianças chorarem.

Mas quem sabe comemorar mesmo o Natal são os peruanos da província de Chumbivilcas, que tem uma tradição chamada Takanakuy. O que acontece é igual a uma típica reunião familiar, se todo mundo levasse os pensamentos para ação. No Takanakuy, os participantes se reunem, bebem, saem no braço pra resolver diferenças novas ou antigas, e depois voltam a beber.

Agora imagine, aqueles parentes e agregados que se implicam e passam o ano inteiro falando mal um do outro ou brigando, e ao invés da hipocrisia de se abraçar e desejar feliz natal e ano novo pra depois virar as costas e fazer tudo igual, se dessem uns tapas pra resolver os conflitos e depois tudo ficasse bem.

Se os peruanos são felizes e conseguem resolver seus problemas com tapas e depois beijos, acho que podemos também pensar em mudar as tradições de final de ano para comemorações realistas, sinceras, sem presentes ou gastos excessivos, e passar a resolver nossas diferenças não com chutes e pontapés, mas com respeito e amor próprio, fazendo o que se tem vontade _ menos enfiar a mão na cara daquele parente falsiane.

Quer comemorar com a família, comemore. Quer viajar, viaje. Quer ficar em casa com amigos, fique. Quer jantar sozinho, ler um livro e depois dormir, faça isso. Poder escolher o que nos faz bem e mudar tradições também merece uma comemoração. Desejo a todos que sobrevivam às pressões e loucuras do final de ano, e que a vida siga com um feliz encontro com você mesmo.

Anna Tscherdantzew

Vive entre Florianópolis, Califórnia e Caxias do Sul. Designer, publicitária, gestora e redatora de conteúdo web, produtora e viajante profissional. Escreve de tudo um pouco pra se divertir e economizar na terapia. Também faz o melhor pudim de leite das Américas. Espaço cedido à opinião da autora.

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