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Afetada pela pandemia, América do Sul lida com protestos, instabilidades e crises que podem afetar o Brasil

O Equador enfrentou, na semana passada, uma onda de protestos contra as políticas econômicas do presidente Guilherme Lasso, principalmente a alta do preço dos combustíveis. Conforme informações da Jovem Pan, pelo menos 37 manifestantes foram presos nos atos, organizados por lideranças indígenas e sindicatos. O país também enfrenta o aumento da criminalidade.

No último dia 19, Lasso decretou estado de emergência no país por 60 dias e acionou as Forças Armadas para combater o tráfico de drogas. Além disso, a região tem enfrentado motins e confrontos entre facções em presídios, que deixaram mais de cem mortos só em setembro. O cenário caótico não é exclusividade do Equador.

Em 2021, outros países da América do Sul enfrentaram – e, em diversos casos, seguem enfrentando –  ondas de protestos, crises políticas e econômicas, como a Venezuela, Colômbia, Argentina e Bolívia.

“São crises muito distintas. São acontecimentos muito diferentes de um lugar a outro, mas têm um plano de fundo, que é a pandemia. Sem dúvida ela impacta todos esses países, alguns em maior medida”, afirma Tomaz Paoliello, professor do curso de relações internacionais da PUC-SP.

Ele destaca ainda que a crise econômica em diversos países da América do Sul tem a ver com uma queda de demanda global, além da diminuição do crescimento chinês. Leandro Consentino, doutor em ciência política pela USP e professor do Insper, afirma que cada país tem sua dinâmica própria, mas ressalta que a crise sanitária acabou sendo um ponto em comum para o caos na América do Sul.

“O cenário pandêmico agravou o que já era complicado. São todos países que já tem problemas de desigualdade, de pobreza, e isso se torna um barril de pólvora prestes a explodir nesses momentos.”

Vale lembrar que a Colômbia teve mais de 40 dias de protestos contra uma proposta de reforma tributária em abril. A repressão aos atos deixou mais de 60 mortos. Na Venezuela, crise humanitária. O procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional de Haia, Karim Kahn, afirmou na quarta-feira, 3, que o governo de Nicolás Maduro é investigado por crimes contra a humanidade por supostamente perseguir manifestantes contrários ao regime.

A crise política também atingiu a Bolívia com a prisão de Jeanine Áñez no último dia 13, presidente interina do país acusada de conspiração para a derrubada do ex-presidente Evo Morales em 2019, e o Peru, onde Pedro Castillo teve sua vitória contestada pela opositora Keiko Fujimori, que alegou fraude nas eleições.

Três meses depois de sua vitória, Castillo precisou remodelar seu gabinete, forçar o afastamento do primeiro-ministro, Guido Bellido, e se distanciar da ala mais marxista do governo para conseguir acalmar o Congresso.

Situação pior vive Sebastián Piñera, ameaçado de impeachment no Chile devido a um escândalo envolvendo o nome de sua família na venda de empresas offshores. Na próxima segunda-feira, 8, os deputados do país vão votar a admissão de um processo contra o presidente chileno.

Na Argentina, que compõe o Mercosul com Brasil Uruguai e Paraguai, o caótico cenário político se soma ao empobrecimento da população. Em setembro, cinco ministros, uma secretária e dois chefes de órgãos estatais do governo de Alberto Fernández se demitiram.

As renúncias estão relacionadas a uma queda de braço entre o mandatário e sua vice, Cristina Kirchner, nas eleições primárias. O país ainda enfrenta uma crise econômica, que levou ao congelamento de preços de milhares de produtos.

“A instabilidade é mais comum na política da Argentina do que estabilidade. O governo está enfrentando uma crise com a oposição – o que é de se esperar – e também enfrenta uma crise interna no governo. O presidente Fernández vai ter que se desdobrar para demonstrar uma capacidade de liderança bastante forte para vencer os inimigos externos e os internos. Vai ser bastante difícil a gente ver uma situação tranquila na Argentina a curto prazo”, analisa Consentino.

A crise no país vizinho e em outros da América Latina, no entanto, podem ter consequências para o Brasil. Paoliello lembra que a Argentina é um dos nossos principais parceiros comerciais, o que pode impactar a economia do país. “Crises no nosso entorno podem nos prejudicar do ponto de vista do intercâmbio comercial.

Além disso, a instabilidade faz com que os investidores enxerguem que talvez não seja uma uma região atrativa para colocar o seu dinheiro”, completa Consentino. “O Brasil poderia ser um ativo importante em liderar o processo de solução dessa crise. De fazer parte de solução, e não do problema. Porém, o Brasil hoje não me parece em condições de fazer isso. Abandonou muito dos seus pressupostos circulares de política externa”, conclui.

Isa Severo

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