Opinião

Reflexões Filosóficas – I

Eu evito assuntos de Filosofia. As pessoas não gostam e a gente acaba falando sozinho. Aliás, acham inútil o discurso filosófico: “Que coisa sem utilidade qualquer”! É possível até dizer que a Filosofia é um caminho de isolamento.

A Filosofia pode ser compreendida como “amor pela sabedoria”, amor esse experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância. Socraticamente, seria uma espécie de “só sei que nada sei”; a vida é uma eterna busca e uma interrogação sem fim.

Segundo autores clássicos, o sentido original do termo é atribuído ao filósofo grego Pitágoras (IV a.C.); sem embargo, a Filosofia também pode ser definida como a investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica (do que se pode ver), da experiência e das aparências sensíveis. Difícil, né?

Sim, mas, embora a percepção geral seja essa, as pessoas usam, em suas vidas cotidianas, muito mais Filosofia do que gostariam de admitir ou que possam perceber. Vou provar isso para vocês ficando apenas em dois exemplos: a crença no destino e a crença nas escolhas.

Com efeito, nada mais filosófico do que essas duas premissas. Elas, por si só, redundaram em obras inteiras e outras, amparadas em seus desdobramentos, especialmente a partir de interpretações e reinterpretações desses dois pensamentos que estruturaram a Filosofia Clássica: o de Platão e o de Aristóteles, respectivamente.

Vocês podem, com direito, à altura, pensar: pare com isso, Silvia. Quanta bobagem nessa tua coluna hoje.

Bobagem nada. Muitas ciências e mesmo, pasmem, fundamentos religiosos, têm em suas essências essas bases filosóficas: o destino, que se identifica com o “Determinismo” (platônico), segundo o qual tudo se acha predeterminado e o homem está amarrado, invariavelmente, à sua sina; e a Escolha, identificada com a “Contigência” (aristotélica), com o livre arbítrio, com aquilo que é, por autodeterminação, assim, mas poderia ser diferente, se outra tivesse sido a opção do agente.

Então, pensem o quão recorrentemente cremos e dizemos: “era para ser”, “estava escrito nas estrelas”, “Deus quis assim”, “quis o destino”. Ou, em outro giro, “ele quem quis assim”, “foi a opção dele”, “cada um é responsável pelo que faz”; “quem procura, acha”.

Para quem não sabia até hoje, nessas posturas, estamos exatamente praticando filosofia, sendo, conforme o caso, platônicos ou aristotélicos, confirme se acredite que tudo na vida está predeterminado, ou se defenda a ideia de que tudo é questão de escolha. O bem e o mal decorrem de uma boa ou má opção.

Em um exemplo: se vocês olham para o ovo e acreditam que dentro dele estão todas as informações, desde nascimento do pinto (sexo, cor, tempo de vida, acasalamentos, doenças etc.), vocês são deterministas. O ovo segue o que está predestinado para ele desde sempre, início, meio e fim. Tudo certo. A Biologia também pensa assim. A Física tradicional também. Albert Einsten foi também. Para o renomado cientista, para tudo, havia uma explicação, uma lei de regência, de causa e efeito. O mundo é regido por leis; embora pudesse haver um déficit de seu conhecimento pelo homem, elas existem e estão aí para serem descobertas.

Agora, se vocês acham que o ser humano tem a capacidade de mudar o seu destino, o curso de sua própria história, pelas suas escolhas, pelo seu livre arbítrio, vocês são adeptos da contingência. Acreditam que as coisas são assim, mas poderiam ser diferentes, se outras tivessem sido as nossas escolhas, então são aristotélicos. Na próxima Coluna, vamos ver mais sobre isso, as origens dessas ideais e o modo como repercutiram nas religiões, nas ciências e, inclusive, no Direito.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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