Opinião

O Matriarcado Tóxico

Era um churrasco de amigos no final de semana. A casa tinha um jardim cheio de plantas, pássaros e, claro, mosquitos.

Ela arrumou tudo com carinho: toalhas simpáticas bordadas pela avó, rede de chitão colorido, tapetes de algodão para se deitar na grama e cadeiras espreguiçadeiras. Os vasos com flores colhidas no jardim davam um ar de capricho ao kioske onde estava a churrasqueira, cheio de objetos rústicos-macho-man do marido.

Os amigos eram de casa, e variavam dos 9 meses aos 102 anos, sendo as mais novas e mais velhas todas mulheres.

Sentaram todas num círculo espontâneo, contando dos seus dias e brincando com as crianças. As matriarcas lembravam suas histórias, e a mais recatada, com sua bolsa combinando com os sapatos em uma mão e uma tava de vinho na outra, olhava e cena e sentenciava: vida boa não tem pressa. Gênia!

Os poucos personagens masculinos presentes não sentaram na roda, ficaram ao redor do fogo como provedores da comida, aguardando a aprovação delas sobre a carne que acabaram de caçar no açougue ali perto.

Sim, observando o círculo harmonioso e indiferente à presença deles, um dos machos alfa chama a atenção para aquela cena:

  • Parecem leoas com as crias, nos deixando do lado de fora!

Duas delas combinavam um jantar para o dia seguinte, só entre elas.

  • Vai ser o dia dos pais cuidarem dos filhos, e nós vamos sair para conversar sozinhas, declarou uma delas, calmamente e sem culpa.
  • Mas antes de jantar vamos num show de música ao ar livre, porque a gente merece uma fempo só nosso, declarou a outra.

Um dos caçadores-leão-macho-alfa-da-matilha, assistindo a tudo, meio brincando meio inconformado reclama, declarando pra quem quisesse ouvir:

  • Onde vamos parar com esse matriarcado tóxico?

Não se fez silencio, nem climão, nem as leoas pararam de se divertir para dar uma resposta.

E assim a tarde foi passando, agradável e desenhando uma nova configuração familiar, de uma geração menos selvagem “Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão, e a tigresa possa mais do que o leão”.

Anna Tscherdantzew

Vive entre Florianópolis, Califórnia e Caxias do Sul. Designer, publicitária, gestora e redatora de conteúdo web, produtora e viajante profissional. Escreve de tudo um pouco pra se divertir e economizar na terapia. Também faz o melhor pudim de leite das Américas. Espaço cedido à opinião da autora.

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