Opinião

Legendárias

Se você não ouviu falar dos Legendários nas últimas semanas, tenho duas perguntas pra te fazer: Em que planeta você vive, e a segunda, como faço pra chegar nesse planeta e não ficar sabendo e obcecada por essas bobagens?

Apenas pra dar uma ideia, o Legendários se define como “um movimento que busca a transformação de homens, famílias e comunidades por meio de experiências que levam os homens a encontrar a melhor versão de si mesmos e seu novo potencial”. Tudo isso através de desafios pagos, com preços que variam entre 450 reais e 81 mil. São dias escalando montanhas, idas a igreja e outras coisinhas mais que teoricamente reforçam o que? A masculinidade no seu pior e mais sombrio conceito.

Essa versão coach dos escoteiros crescidos da machosfera me assusta. Não pelo ridículo do apelo: pague caro para resolver seus problemas sem encarar os problemas, mas reforçando os comportamentos que provocaram esses problemas. Macho sendo macho.

Não sou contra subir montanhas, desde que com guia apropriado e sem ter que pedir ajuda pro resgate, como um inominável coach. Só acho que a coitada da montanha não tem nada a ver com os problemas, nem é psicóloga pra resolver eles.

Vocês acham que eu pego no pé, mas qual combinação pode ser mais perigosa pra saúde mental do que coach, religião e influencer misturados? É lorazerpam com arsênio e champanhe.

Pensando no absurdo do contexto, resolvi lançar um programa chamado Legendárias, pra ver se cola.

Nele, ao invés de subir montanha ou reforçar estereótipos masculinos ultrapassados e problemáticos, as mulheres vão fazer o que quiserem, sem serem as primeiras a acordar e últimas a dormir na casa por causa da jornada dupla ou tripla.

Nas Legendárias, a mulher não vai precisar ser mãe solo que dá conta de tudo sozinha, porque os homens não vão sumir fugindo das suas responsabilidades.

As Legendárias não vão precisar pedir mil vezes para o companheiro fazer algo na casa ou da casa, porque os afazeres serão naturalmente divididos.

E acima de tudo, as Legendárias não vão precisar ter medo de serem agredidas ou mortas, porque o feminicídio será substituído por companheirismo, carinho e entendimento que ninguém é melhor que ninguém, que lugar de mulher é onde ela quiser e que problema se resolve encarando de frente como uma mulher, e não fugindo para as montanhas.

Anna Tscherdantzew

Vive entre Florianópolis, Califórnia e Caxias do Sul. Designer, publicitária, gestora e redatora de conteúdo web, produtora e viajante profissional. Escreve de tudo um pouco pra se divertir e economizar na terapia. Também faz o melhor pudim de leite das Américas. Espaço cedido à opinião da autora.

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