Opinião

Jogo do Miquinho

Sempre achei estranho o nome “Jogo de Azar”. Se é uma coisa boa, por que não chamar de “Jogo de Sorte”? Na verdade azar e sorte não são, na sua essência, indicativos de coisas ruins e boas respectivamente. Tem boa sorte e má sorte, e tem o azar, que é a aleatoriedade, o acaso.

Dizem as lendas e a história que os primeiros jogos de azar surgiram pelos anos 1700 a.C. em cidades persas. Mais tarde, na Grécia, eram considerados uma forma de contato com Deus. Lá pelo ano de 200 a.C. na China os jogos ajudaram a financiar a construção da Grande Muralha. Depois disso foi só morro abaixo. Vieram os dados, as brigas de galo, as cartas e as máquinas caca-níqueis, também conhecidas como “bandidos de um braço só”.

Pronto, já comprei briga com quem entende de português e história, falando sobre semântica e origem, sem estudar a fundo a questão. Mas aqui é uma coluna de opinião e não um trabalho científico, então só toco a campainha e saio correndo.

Voltando ao assunto, além da discussão sobre a legalização dos jogos de azar e as já legalizadas bets – sites de apostas esportivas, eis que surge o Fortune Tiger, mais conhecido como Jogo do Tigrinho.

Apesar do nome, o tal Jogo do Tigrinho não é um Jogo do Bicho virtual. Ele é um mico eletrônico, onde quem joga sempre perde, mesmo quando ganha. E sim, quem joga está em busca de ganhar dinheiro fácil, como quem compra o bilhete premiado, instigado por necessidades psicológicas reais e a inundação de dopamina e prazer que ganhar causa em todos nós.

A boa sorte dos criadores desse jogo não é nada aleatória. Tem técnicas pra chamar e prender a atenção, fazendo quem está do lado de cá da tela clicar a primeira vez e levar o boi com a corda e tudo até o tigre. As cores, o layout, os vídeos de demonstração onde o jogador sempre ganha, a ostentação dos influencers e blogueiros – sempre eles – que supostamente te ensinam como não perder; tudo trabalhando sincronizadamente para o jogador iniciar uma viagem empolgante ao fundo do poço.

Eu particularmente não gosto de jogos de azar, mas acho uma hipocrisia liberar alguns jogos e outros não. Conheço pessoas que perderam muitos bens materiais e o sossego por causa do jogo, assim como conheço pessoas que tiveram perdas pelo vício em compras, drogas e álcool. E assim como ou outros vícios, fingir que não existe, criminalizar e jogar pra baixo do tapete não resolve o problema. Precisa discussão, regulamentação e apoio psicológico para quem tem qualquer tipo de dependência.

Voltando ao tigrinho e outros inúmeros jogos online similares, o problema é o tamanho da falcatrua. Como não são legalizados no Brasil, não são auditáveis, não seguem regras e nem pagam imposto. Grande negócio.

E, assim como acho que os resultados desses jogos sem regulamentação não são aleatórios como deveriam ser, também acho que o nome do jogo não tem sua origem no símbolo de poder e coragem do tigre, que afasta o mal e traz boa sorte, mas sim na expressão chinesa “Quem monta um tigre, tem medo de desmontá-lo”, porque sabe que já foi engolido por ele.

Anna Tscherdantzew

Vive entre Florianópolis, Califórnia e Caxias do Sul. Designer, publicitária, gestora e redatora de conteúdo web, produtora e viajante profissional. Escreve de tudo um pouco pra se divertir e economizar na terapia. Também faz o melhor pudim de leite das Américas. Espaço cedido à opinião da autora.

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