Opinião

Chutar o balde é um exercício de pouca valia, mas tá valendo

A teoria malthusiana concebida por Robert Malthus lá no século XVIII previa que o crescimento da população seria, no decorrer dos anos, maior do que a capacidade de produzir alimentos, resultando em miséria e morte. Pode-se transportar os estudos deste economista para a sociologia. Num grupo confinado em espaço restrito, a razão cede lugar aos instintos mais primitivos. Os indivíduos perdem facilmente a razão e partem para a agressão. Cada um vai lutar por sua sobrevivência começando por garantir seu espaço de acomodação e acabando no extremo do canibalismo. O velho e eterno instinto de sobrevincia em estado bruto. Claroque não vamos comer ninguém, mas a prática de chutar o balde nunca esteve tão em alta.

Neste último meio ano a humanidade tem sido exposta a um tipo de provação que não havia experimentado antes. Isolamento/distanciamento social que impede muita gente de um de seus direitos mais primordiais: o trabalho.

Acompanho em grupos de whats ou pelas redes sociais a indignação (justa) de quem está há cinco meses sem renda. Especialmente os donos de pequenos negócios estão sofrendo. Para esta gente os R$600,00 não passam de um óbulo que recebem de forma envergonhada. O padrão de renda caiu drasticamente e a viabilidade do negócio está comprometida. Houve necessidade de demitir, o que é oneroso e pesaroso por tudo que há implícito, do dinheiro à humilhante situação. As contas continuaram chegando e a receita não. Está certo, energia, impostos e outras despesas podem ser repactuadas. Mas se convertem num carnê indesejado para uma retomada difícil e com data incerta. Não é à toa que escolas infantis em Bento recusaram adiantamento de receita por temerem não ter como devolver a partir de novembro, como era a proposta da municipalidade.

Aliás, filhos amados em casa e com exigências de aulas online e toas as demais atividades pra lá de restritas forma um caldeirão em ebulição. Um verdadeiro coquetel bomba para a sanidade mental de todos.

As pessoas tendem a xingar prefeito, governador e até o distante etíope Thedros Adhanom, autoridade em sanitarismo e presidente da OMS. Uma das menores ofensas é a de que ele não é médico (!!). Afinal, vivemos momento único e desconhecido. Restrições impositivas e cansativas. Não há vereador ou deputado a quem recorrer. Há um presidente negacionista. Há quem defenda remédios prosaicos como a solução para tudo, quando não há suficiente comprovação para sua eficácia – e nem estou dizendo que diante de uma prescrição médica não venha a fazer uso dela.

O final de semana foi pródigo em marchas e contramarchas. Prefeitos da Amesne baixaram decreto de flexibilização. O Ministério Público não concordou e agora cabe ao Governo do Estado, sim, aquele do “menino de Pelotas”, regulamentar o que prefeitos entendam possa amenizar a ira de quem não aguenta mais as incertezas e a impossibilidade de buscar seu ganha pão.

A semana começa com um rasgo de luz: a volta da bandeira cor laranja. Então o que foi proibido no domingo, a partir desta terça está liberado e com mais aberturas ainda.

Infelizmente por muitas semanas seguidas o RS tem se colocado entre as unidades federativas com número de casos e de mortes crescendo. Este é o nosso verdadeiro front de luta e de indignação. Este é o nosso verdadeiro fracasso como sociedade. Enquanto não conseguirmos barrar o avanço do vírus, vai ser difícil voltar à vida de antes. E brigar com teu filho ou colega não vai resolver nada. Xingar o Governador pode, mas também não é solução.

Gerson Lenhard

Jornalista com atuação em jornais por 25 anos e experiência de mais de 12 anos em rádio. Acompanha a política nacional e o mundo dos negócios, especialmente em Bento Gonçalves.

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