Cena dois: a feira vai bem e já transcorre o segundo dia. A recepcionista do estande faz apenas o que lhe pediram, sorri e atende com simpatia aos clientes e visitantes. Recusa recatadamente as propostas insinuadas ou declaradas. Continua sorrindo ao recuar pela terceira vez diante de uma proposta indecente do mesmo sujeito até que este inconvenientemente enfia a língua no seu ouvido. Aí a paciência dá espaço à indignação e um gancho de direita explode no queixo do linguarudo que precisa ser atendido com o sangue escorrendo pelo canto da boca. A mão da jovem doeu, ela foi dispensada do trabalho, mas a desforra valeu.
Parecem duas faces de uma mesma moeda, mas a verdade é que há sempre uma injuriada que mesmo quando pensa sair por cima acaba punida pelo seu desagravo. Todos os dias em todos os municípios do Brasil uma mulher é estuprada ou aviltada com toques, olhares e insinuações indesejadas. É algo medieval, ancestral e o tapinha na bunda pode ser só a porta de entrada para algo bem mais pesado.
Então, respondendo à pergunta do início, um tapinha na bunda pode e não pode. Mas, em regra não pode. Só pode se houver intimidade, namoro. Ou se quem der o tapinha for a mulher. Neste caso só será assédio se ela for hierarquicamente superior ao dono dos glúteos que receberam a palmada. Isto porque normalmente não haveria imposição física da mulher sobre o homem e este acaba recebendo o carinho como elogio e não como agressividade.
Falo do tema que a Jane trouxe ao debate no programa Sem Nome de ontem. Ela propôs enquete na página do negócio dela sobre a questão, tomando o assunto de uma provocação do ator Matt Damon que pretende dizer que nem tudo é assédio. Vem ainda a propósito da entrega do Globe Awards, onde as atrizes vestiram preto, dizendo que já é tempo de cessar o inoportuno, desagradável, nojento e criminoso jeito como muitos homens tratam as mulheres. Como se elas fossem objetos inanimados ou sem vontade própria.
A gente até entende o que o Matt Damon quis dizer. Tá difícil ter naturalidade, ser espontâneo, tocar sem ser mal compreendido. Mas o natural seria que os envolvidos soubessem quando é e quando não é assédio. Normalmente precisa haver um consentimento tácito para qualquer toque. Fora isso é invasão. É indesejado e, portanto ofensivo. Isso já foi dito, mas precisa ser repetido e repetido até virar um mantra
Vivemos tempos de exposição máxima, de esclarecimentos amplos. Há que ter cuidado sobre o que dizer, como dizer e também sobre como agir. Um simples elogio à beleza pueril de uma criança pode ser mal interpretado. Um galanteio a uma jovem ou a uma senhora é preciso estar bem contextualizado. Então, é possível concluir que ainda há espaço para a brincadeira de mão, para o abraço carinhoso e a paquera, mas se há tanta gente reclamando é por que há razões cotidianas e históricas que justificam suspeitas, queixas e denúncias.
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