Na Vila Conceição, zona Sul de Porto Alegre, a arborização intensa chama a atenção, porém algumas destas árvores que outrora embelezavam a região, uma das mais nobres da Capital, ainda tinham pedaços amontoados no chão na manhã desta terça-feira, depois do temporal de uma semana atrás. Postes de madeira e muita fiação também jaziam nas calçadas, causando indignação aos moradores, que se sentiam desassistidos e precisavam improvisar, diante da falta de energia elétrica.
O técnico em Enfermagem Juliano Santos trabalha em uma clínica psiquiátrica particular na rua Apolinário Porto Alegre. Segundo ele, há 18 pessoas no local, entre eles, dois com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ao menos 12 com esquizofrenia. “São pessoas mais agitadas, e imagina você trabalhar com elas à noite, quando está tudo escuro. Temos que ser ainda mais resilientes”, comentou ele. A proprietária do local mora não muito distante, em uma residência com luz.
“Precisamos colocar quatro pessoas em um carro para dar banho na casa dela, depois trazê-los e assim ir revezando”. As luzes de emergência funcionavam, porém a bateria delas dura pouco tempo. O local também ficou quatro dias sem abastecimento de água. A rua em questão teve apoio do Exército para a remoção das árvores da via. Ao menos uma delas, no outro lado da rua, despencou sobre parte do terceiro andar da residência em frente, destruindo um pedaço do telhado.
Mais adiante na mesma rua, o empresário Paulo Christiano Ferneda disse duvidar que era verdadeiro o número divulgado pela CEEE Grupo Equatorial hoje pela manhã de 99,7% dos clientes já com a energia elétrica restabelecida. A residência dele e da família era uma ainda das que estavam sem luz e sem previsão de retorno, e ele, que trabalha de home office, não conseguia trabalhar há uma semana.
“Não acho que seja verdade, porque não vejo perspectiva (da volta da energia). Eles (CEEE) mandam SMS dizendo que já têm luz, porém não procede. Para nos alimentarmos, até vamos ir na casa de amigos, comer fora ou comprar algo, mas nada que seja congelado ou que utilize geladeira. Compramos gelo no saquinho e estamos utilizando um cooler”, relatou ele, elogiando o trabalho do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), que, no sábado pela manhã, um turno antes do previsto, esteve na via para a limpeza “do que era possível”, disse Ferneda.
Porém, apenas no sábado alguns postes da rua foram trocados. Em outra rua próxima, a Prof. Ildefonso Gomes, grande parte de uma árvore que havia caído já foi removida, não sem antes destruir a fachada de um residencial na queda. O zelador Sandro Fernandes Monteiro contou que a luz até havia retornado mais cedo hoje. No entanto, voltou a cair por volta das 9h, após um estouro em um transformador de energia próximo.
“A maioria dos moradores está viajando. Estamos aguardando uma solução. Não é apenas a luz, mas também a telefonia que está inexistente aqui. Interessante que o pessoal da CEEE veio e falou que não sabia o que estava acontecendo”, relatou. Ainda conforme ele, um morador que mora no local estava chegando em casa no momento em que a árvore despencou sobre a fachada do condomínio. “Ele parou apavorado, e imagina se estava um pouco mais para baixo? Teríamos uma pessoa morta aqui”.
Monteiro também relatou dificuldades em conversar com a distribuidora de energia. Na rua Professor Emilio Mayer, ali próximo, o empresário Cassio Lopes também disse ter ouvido o estouro do transformador, na manhã desta terça. “A falta de luz é um problema corriqueiro e convivemos com isto. As árvores estão sobre as fiações. Só que não há ação sobre o problema. Este caso foi bastante atípico”, disse ele, que havia retornado de viagem na véspera. “Pensamos que estaria resolvido, e queremos respostas”. Outros pontos sem energia elétrica nesta terça pela manhã na Capital incluíam o condomínio Jardim Medianeira, no bairro Santa Tereza, e parte do Cristal.
Fonte: Correio do Povo