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Por dentro dos muros: Servidora da Suspe fala sobre o trabalho na Penitenciaria do Apanhador

Após retratar a estrutura da Penitenciaria Estadual de Caxias do Sul (PECS), e de retratar o dia a dia de um agente penitenciário no Apanhador, a série de reportagens do Grupo RSCOM “Por dentro dos muros” chega a sua terceira e um última edição com a visão de futuro do sistema penitenciário do Rio Grande do Sul, através do olhar de alguém que começou recentemente a trabalhar na PECS.

Caroline Pacheco, de 38 anos, é formada em Direito e possuí Mestrado em Direitos Humanos. Ela trabalha na PECS desde julho deste ano e conta que, logo após se formar não se via trabalhando na Susepe, porém, se inscreveu no concurso, passou e com o início das aulas de preparação, ela começou a se interessar pela profissão e hoje não se vê trabalhando com outra coisa.

Caroline contou que a sua formação em direitos humanos, auxilia muito no seu trabalho, já que ela entende que é necessário manter o mínimo de humanidade dentro do presídio. Para ela é preciso ter um olhar mais humanizado para dentro do sistema carcerário, não apenas aos detentos, mas também para os agentes, ajuda para que se mantenha um bom ambiente de trabalho.

Hoje se fala muito em ressocialização dos presos. Para Caroline, este ainda é um caminho longo para ser percorrido.

“Tem muito que se caminhar ainda. A Susepe ainda é deixada de lado pela sociedade, pelo Estado, em relação a investimentos. Hoje as coisas estão melhores, mas os colegas mais antigos sofreram muito com isso, com salários, com a visão da sociedade, porque não somos vistos como polícia, ou com o valor que deveríamos ter como servidor público. A verdade é que estamos com quem ninguém quer na sociedade, estamos cuidando de quem a sociedade rejeita”, disse.

Ela, que não é a única mulher agente, trabalha a cerca de um mês no setor administrativo. Antes disso, trabalhava diretamente com os detentos e relata que a única atividade que as mulheres não exercessem é a revista. A única exceção são duas detentas transsexuais, que são revistadas por mulheres. Ela contou que sempre se pergunta para as duas por quem elas desejam ser revistadas, e sempre a resposta é que seja feito pelas agentes.

Questionada se ela já ouviu alguma frase ofensiva dos detentos, ela foi enfática.

“Não! Isso era um receito que eu tinha no curso de formação. De chegar aqui e não ser respeitada por ser mulher, por ser um ambiente machista. Mas não, eles respeitam muito. Tem muito a ver que eles não batem de frente com os agentes. Foi preciso também se impor, se preciso ser mais rude vou ser, se não precisa não tem o porque. Até agora, não tive problemas”.

Ela comentou também que fora do presídio as reações são diversas quando ela conta sobre seu trabalho. Do susto a admiração, principalmente por parte de outras mulheres, que às vezes não sabem que existem agentes do sexo feminino e que isso mostra que cada vez as mulheres estão tomando o seu espaço dentro da sociedade.

Sobre a autoestima feminina, ela diz que no começo teve receio de se maquiar ou de pintar a unha, mas que isso passou e hoje ela percebe que não há nada que afete essa questão. Apesar disso, mantém alguns cuidados como o tamanho do brinco, e do corte de cabelo para evitar problemas dentro do trabalho.

Sobre os próximos anos da PECS, e do sistema carcerário do Rio Grande do Sul, a agente diz que é preciso haver investimento por parte do Poder Público para que que os agentes consigam realizar um bom trabalho dentro da casa penal e para que os detentos possam sim sair de lá pessoas melhores e com perspectivas de um futuro.

Cristiano Lemos

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