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O caso Jéssica deve ser um divisor para marcar a diferença entre o jornalismo e caça likes

É verdade que não se pode creditar integralmente o ato extremo da jovem Jéssica Canedo à maledicência de uma fake news. Ela se matou após terem lhe imputado um “affair” com o influenciador digital Windhersson Nunes. É absolutamente impossível dimensionar o efeito dominó que as redes sociais podem ocasionar e ainda mais sobre alguém que não esteja em seu perfeito equilíbrio emocional. Agora, sejamos honestos, existem redes sociais para as quais ou se está preparado para a controvérsia, com perneira para enfrentar o fel, a reprovação e o o ódio ou é melhor nem descer ao playground. Quanto à jovem em questão, sequer esta escolha parece ter sido dada. O mesmo acontece com pessoas que tem falas e fotos distorcidas ou criadas por Inteligência Artificial.

 

Suicídio cometido por jovens em crise existencial não chega a ser algo raro. Deste episódio o que choca e torna obrigatória a discussão pública é a atitude e a leitura das consequências por parte do site Choquei – olha a redundância aí, o Choquei, chocou mesmo. A fofoca em questão não teria qualquer respaldo na realidade. Depois de toda a nefasta consequência eis que o administrador/proprietário do site vem a público não para pedir desculpas, mas para se eximir e sustentar que não cabe ao seu site checar a veracidade dos fatos publicados.

 

Vejam que encruzilhada. Mais de 20 milhões de seguidores e nenhuma responsabilidade sobre as publicações. Milhões em receitas publicitárias e zero em credibilidade. Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre como e onde buscar informações: redes sociais ou mídia tradicional? Este caso é lapidar e deve ser visto como um divisor.

 

Faz algum tempo que o jornalismo, como se o conhece, vem dividindo com as redes sociais o protagonismo na difusão de informações. E, no Brasil, após duros ataques vindos de um governo decidido a voltar para a idade média e jogar jornalistas na fogueira, a situação é ainda mais grave.

 

Partindo-se da premissa de que a volta da censura não é opção, percebe-se nitidamente que é preciso encontrar formas de atrair as redes sociais para o lado claro da força – força da comunicação/informação. No jornalismo tradicional há profissionalismo envolvido. Influencers aprenderam uma forma de buscar likes e seguidores pelas mais diversas formas e razões. Aí ganham fama e dinheiro numa razão inversa do que ocorre com jornalistas, em regra, mal remunerados. Não é possível que ao conquistar tanta popularidade e consequente tamanha verba publicitária, os “Midas” da era digital continuem ostentando um desprezo vil pela verdade, pela ética e por um compromisso de divulgar com responsabilidade. O mínimo que se deveria exigir é diferenciar o que é notícia do que é opinião. O que foi checado daquilo que simplesmente foi reproduzido e neste caso citar a fonte.

 

O cidadão não tem o dever e, no mais das vezes, não consegue distinguir o que é notícia do que é texto de opinião. Num país em que os índices de educação não são nada bons e em que muitas vezes a leitura não vai além do título e do lead de uma matéria, deveria caber este mínimo de esclarecimento a quem dá voz e vazão a terceiros.

Gerson Lenhard

Jornalista com atuação em jornais por 25 anos e experiência de mais de 12 anos em rádio. Acompanha a política nacional e o mundo dos negócios, especialmente em Bento Gonçalves.

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