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“O Brasil não é uma ilha, e o que ocorre no exterior tem impacto ” afirma ex-embaixador Rubens Barbosa

“O Brasil não é uma ilha, e o que ocorre no exterior tem impacto aqui dentro”. A afirmação é do ex-embaixador em Washington e Londres Rubens Barbosa, palestrante da RA CIC Caxias do Sul nesta segunda-feira (22). Atual presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), o diplomata analisou, em participação on-line, as consequências da pandemia, da guerra na Ucrânia e, mais recentemente, da crise ao redor de Taiwan sobre a geopolítica mundial no evento promovido pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias).

As consequências para o Brasil das transformações políticas, econômicas e estratégicas e deste novo cenário global, de acordo com Barbosa, vão depender muito da duração da guerra na Ucrânia, da evolução da crise em Taiwan, das sanções que continuarão sendo impostas à Rússia e, na eventualidade de ataque armado contra Taiwan, das sanções à China. “Como vão evoluir as duas disputas?”, questionou. A guerra da Ucrânia vai se prolongar e continuar a ter forte impacto em todos os países e em todas as áreas, enquanto no caso de Taiwan, é incerto o que vai acontecer, comentou.

Em sua visão, os impactos sobre a economia brasileira serão enormes nas duas situações. “Estamos tentando voltar a crescer, aumentar o emprego, aumentar a renda – nós, neste ano, vamos crescer até razoavelmente dentro da conjuntura atual – mas no ano que vem, por causa da situação global de desaceleração do crescimento e do aumento da inflação, eu prevejo dificuldades para o Brasil aumentar o seu crescimento. Possivelmente, vamos ter uma redução do crescimento e vamos ter dificuldades de reduzir a inflação”, disse.

Rubens Barbosa ressaltou que as mudanças no mundo estão gerando muitas vulnerabilidades para o Brasil. “A pandemia e a guerra mostraram como o Brasil está vulnerável em vários aspectos. No comércio exterior, pela concentração de produtos e de mercados. No agronegócio, só para a China, vão 31% das exportações brasileiras; os seis primeiros produtos da pauta de exportações concentram 50% das exportações totais brasileiras. O ideal seria uma desconcentração dos mercados e dos produtos. Governo e setor privado descuidaram desse aspecto. Não é possível o Brasil, um dos quatro maiores produtores agrícolas do mundo, depender 85% dos fertilizantes que vêm de uma área crítica, que é a Rússia”, argumentou o convidado da CIC Caxias.

Por outro lado, Rubens Barbosa ponderou que a vulnerabilidade causada pela desorganização econômica mundial também gera oportunidades, principalmente a busca de novos mercados e novos produtos para as exportações brasileira, além da diversificação das fontes de suprimentos. Em algumas áreas, Barbosa acredita que o Brasil deveria buscar autossuficiência e autonomia, como outros países estão fazendo, por meio da reindustrialização.

“O Brasil está longe dos problemas, mas está sendo afetado diretamente. Tem que enfrentar esta nova geopolítica com políticas de médio e longo prazos, reduzir a vulnerabilidade e não tomar partido nem geopolítico nem ideológico nesta disputa entre o Ocidente e a Eurásia. Espero que nesta campanha que se iniciou os candidatos a presidente da República possam ter noção do que está acontecendo, e quem quer que ganhe, a partir de 1º de janeiro de 2023, possa adotar políticas que coloquem o Brasil livre ou com os custos diminuídos dos impactos que estas grandes transformações no mundo estão acarretando a todos os países”, concluiu.

Fábio Carnesella

Jornalista com pós graduação em comunicação digital. Atua no jornalismo desde 2002, com passagens por diversos emissoras da serra gaúcha. Assessor de imprensa na Câmara dos Deputados e Diretor de Comunicação da Prefeitura de Flores da Cunha.

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