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Governo apresenta mudanças no plano de carreira de servidores públicos do RS

Governo apresenta mudanças no plano de carreira de servidores públicos do RS Governo apresenta mudanças no plano de carreira de servidores públicos do RS Governo apresenta mudanças no plano de carreira de servidores públicos do RS Governo apresenta mudanças no plano de carreira de servidores públicos do RS
 Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini
Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

A partir desta semana, o governo do Estado passará a discutir com a sociedade as reformas estruturantes que projeta para reduzir os custos da máquina pública e possibilitar o aumento em investimentos. Partindo do cenário de que 82% da receita atual está comprometida com o pagamento de pessoal, o pacote de medidas proposto é focado em contenção da despesa vegetativa, previdência, cargos comissionados, isenções e benefícios fiscais e reforma tributária.

As propostas não estão concluídas. Antes de protocolá-las na Assembleia Legislativa – o que está previsto para a segunda quinzena de outubro –, o governador Eduardo Leite iniciou nesta segunda-feira (7) o debate público, buscando explicar os motivos e as consequências esperadas e, seguindo a proposta da agenda do diálogo, colher sugestões para ajudar na construção.

“Não tem mais como adiar essas medidas. Daqui a 20 anos, tanto eu e o nosso governo, quanto os deputados vamos olhar para trás e ver o legado que foi deixado. Sei que não é fácil, pois estamos mexendo em algo que funciona desse jeito há muito tempo. O governo federal, por exemplo, reformou as carreiras e revisou benefícios há mais de 20 anos. Se não fizermos algo agora, o RS vai paralisar daqui a alguns anos”, destacou Leite.

Logo cedo, o governador recebeu para um café da manhã no Palácio Piratini diretores de empresas de comunicação. Ao longo da manhã e início da tarde, se reuniu, no Centro de Treinamento da Procergs, com 23 deputados da base aliada e 13 coordenadores de bancada. Por fim, concedeu entrevista coletiva à imprensa, adiantando alguns pontos da reforma, mas prometendo a divulgação completa somente após se reunir com os sindicatos e os demais Poderes, a quem quer apresentar as propostas “de forma contextualizada e não fragmentada”.

Aos parlamentares, que efetivamente tomarão a decisão final sobre as medidas, afirmou: “Sei que a decisão é difícil, mas está se pensando no legado, e não no governo. O governador não representa o governo, os deputados não representam a Assembleia. Ambos representamos o Estado, o povo”, afirmou.

Combate às causas da crise

Coube aos secretários da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, e de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos, apresentar o cenário fiscal do Estado – e que justifica o encaminhamento da reforma de pessoal.

Os dados mostram que o Estado registra déficit orçamentário, com a despesa de pessoal atingindo 68,44% da Receita Corrente Líquida (conforme critério da Secretaria do Tesouro Nacional), acima do máximo de 60%. O déficit se concentra em despesas de caráter obrigatório, que não podem ser interrompidas, caracterizando um déficit estrutural nas contas públicas.

Além disso, o RS ultrapassa os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – endividamento e pessoal no limite prudencial – e está ranqueado com a pior nota possível (D) na Capacidade de Pagamento, sem direito a contratar novas operações de crédito. A insuficiência crônica do Orçamento de 2019 (considerando riscos de dívida com a União e precatórios) soma R$ 7 bilhões. Isso significa que, estruturalmente, o Estado não teria recursos para quitar mais do que oito folhas de pagamento em um ano.

O cenário do Rio Grande do Sul contempla, ainda, uma das piores situações previdenciárias do Brasil – o déficit para este ano deve ser superior a R$ 12 bilhões. Significa que o Estado destinará esse valor para pagar o que faltou para as aposentadorias e pensões em um ano. É o pior déficit per capita de todo o país – aqui, o custo anual chega a R$ 1.038 por habitante, bem acima do valor registrado no Distrito Federal (R$ 887), que ocupa o segundo lugar no ranking.

“Não estamos pagando a dívida com a União, não estamos pagando os salários em dia – aliás, hoje completa quatro anos de salários atrasados –, não pagamos os precatórios, não temos mais como buscar empréstimo e estamos sem condições de investir em estrutura e melhores serviços. Além disso, estamos nos tornando um Estado envelhecido. Ou o governo age agora ou nem os servidores ou o Estado vão ter sobrevivência sem passar uma enorme crise logo ali na frente”, ressaltou o governador, pedindo aos deputados que compreendam o senso de urgência do pacote.

Considerando apenas as reformas das carreiras dos servidores e da Previdência, o governo estima economizar R$ 25 bilhões nos próximos dez anos. O valor diz respeito a mais do que três vezes o que renderia a venda do Banrisul. “A diferença é que a venda do banco seria uma solução temporária, para resolver somente este governo; enquanto a outra, a reforma, será um legado para as futuras gerações. Queremos atacar as causas, não os sintomas”, ressaltou Leite.

Além de conter o crescimento vegetativo da folha e dos custos previdenciários, o pacote de reformas busca retomar a capacidade de reposição de servidores; reverter a queda do investimento público e na entrega de serviços de qualidade à sociedade; e atualizar e modernizar a legislação do Estado, dando mais clareza e transparência.

Revisão econômica

“Acabar com incentivos fiscais garantiria R$ 9,5 bilhões de ICMS a mais.” Essa é uma falsa afirmação constantemente propagada. O secretário da Fazenda explicou que o montante de R$ 9,5 bilhões inclui isenções nacionais (por exemplo, cesta básica), outras meramente operacionais e, ainda, termos de acordo com validade de longo prazo. “Os créditos presumidos são os de efetivo incentivo econômico e representam menos de R$ 3 bilhões”, afirmou Marco Aurelio.

O governo está fazendo uma revisão econômica desse universo, para tomar uma decisão embasada quanto a possíveis alterações em 2020. “A simples eliminação de incentivos sem estudo implicaria risco de perda de empresas, empregos e receita”, completou o secretário.

Outra alternativa eliminada pelo Estado é a de cobrar ou vender a dívida ativa para resolver o déficit. A dívida ativa tributária em dezembro de 2018 totalizou R$ 44,5 bilhões, mas são valores, em sua maior parte, incobráveis – de empresas que não existem mais, por exemplo.

A provisão para perdas é de R$ 31,6 bilhões, restando, portanto, R$ 13 bilhões passíveis de cobrança. Medidas de cobrança já em andamento garantiram crescimento até agosto deste ano de 18,6% nos recebimentos desses valores em relação a 2018 (R$ 1,72 bilhão, somando Secretaria da Fazenda e Procuradoria-Geral do Estado).

Participaram do encontro, ainda, o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, a secretária de Comunicação, Tânia Moreira, o secretário de Governança e Gestão Estratégica, Claudio Gastal, e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa.