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E se o Lunelli estivesse vivo?

Caminhando na área bancária de Bento outro dia vi, de relance dentro de uma camionete, alguém que parecia ser o ex-prefeito Roberto Lunelli. Lógico que não era. O mês de agosto que se encerra agora marcou o terceiro ano da morte do ex-prefeito.

Mas aí, uma coisa puxa outra e fiquei pensando como seria se ele, naquela manhã de sábado, não tivesse saído de casa na bucólica em São Valentim. Podia ter ficado olhando os passarinhos, brincando com os cachorros ou, sei lá, tirado a manhã para cortar gramas ou corrigindo trabalho de alunos. E não teria se acidentado…

Sabe-se que ele saiu mal da eleição que perdeu para Guilherme Pasin em 2013. Uma verdadeira onda se ergueu para impedir o PT mais quatro anos no comando da Prefeitura. Vozes e ações e números e notícias aos borbotões – qualquer coincidência com a eleição nacional do ano passado não será coincidência – tornaram a eleição do jovem Pasin e do velho PP inevitável, naquele ano. Era preciso tirar a tartaruga do poste – no caso o PT de Lunelli. Nada a reparar.

Mas como a gente sabe, o eleitor tem memória seletiva e perdoa ou esquece. Nem todos os números negativos eram bem do jeito que foram vendidos. Além do mais , a justiça aqui no pago não tem a celeridade de uma lava-jato e há uma duvida razoável sobre qual seria o resultado de uma eleição com Lunelli vivo em outubro de 2016. Porque em Bento como no Rio Grande há uma máxima de que “se há governo, sou contra”.

Lunelli fez um governo realizador e deixou contas. Pasin também está fazendo obras e os tempos de crise econômica não permitem que se tenha os cofres públicos com folga. Lunelli teria tocado o hospital do trabalhador com mais vigor, teria erigido uma nova biblioteca. Possivelmente antes de asfaltar a pista do aeroclube teria investido num restaurante popular ou outra obra para a camada mais pobre da população.

Na época de Lunelli havia gente diferente daquela que estamos habituados a ver no entorno do palácio municipal e suas secretarias quando o PP e o MDB governam. É certo que as coisas seriam diferentes do que são hoje, o que não quer dizer que seriam melhores. A democracia prevê esta alternância exatamente para que grupos distintos sejam atendidos.

A eleição de Lunelli em 2016 estava longe de ser uma probabilidade, mas sim havia uma chance razoável. De qualquer forma, mesmo perdendo se ele estivesse vivo hoje a condição do PT no cenário eleitoral seria de outra envergadura por sua capacidade de articular e pelo peso de um ex-prefeito.

Mas, como já se disse aqui e todos sabem, Lunelli é passado, é um ponto fora da curva na história política de Bento Gonçalves. Daqui a um ano estaremos mergulhados numa campanha eleitoral daquelas bem aguerridas, como costuma acontecer na cidade. Já se sabe que o PP de Pasin virá forte, com candidatura própria e uma, duas ou três opções se postarão como alternativa à continuidade. Aqui reside um dos elementos mais intrigantes de uma batalha eleitoral: quem estará ao lado de quem? A oposição vai buscar uma coligação multipartidária ou o PP terá maior capacidade de atração como astro rei de uma constelação com partidos de menor força?

O eleitor bento-gonçalvense já demonstrou não apoiar alianças casuais em torno do poder. Só por protesto poderá votar num candidato azarão demonstrando assim sua desaprovação a acordos de interesse duvidoso. Ou não foi assim que Lunelli se elegeu?

Pois então é preciso que as lideranças partidárias que andam se encontrando para jantares onde fingem se gostar tomem dois cuidados: olho no pensamento do eleitor; atenção para não engasgar com o toucinho que tempera o radicci.

Gerson Lenhard

Jornalista com atuação em jornais por 25 anos e experiência de mais de 12 anos em rádio. Acompanha a política nacional e o mundo dos negócios, especialmente em Bento Gonçalves.

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