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Desaparecidos

Hoje, depois de ler uma reportagem antiga do New York Post, me pus a pensar na situação das pessoas que têm um familiar desaparecido. Não pense que é coisa rara. Não é. É que a gente só fica sabendo disso quando se trata de familiar de gente famosa ou enquanto um caso específico está na mídia (especialmente se o desfecho é a morte). Depois que a tragédia não impacta mais, dificilmente, os meios de comunicação cedem espaços para enfatizar o desaparecimento, o que é compreensível porque a atividade fim deles é vender notícia, coisas novas, pena de irem à falência. Entrementes, o desaparecido vai sendo esquecido, menos por aqueles que o amam.

De imediato, me ocorre o caso da irmã do lutador Vitor Belfort (fato ocorrido no Brasil), como aquele mundialmente conhecido caso o da menina Madeleine McCann, que ocorreu em um hotel, na noite de quinta-feira, 3 de maio de 2007, no Algarve, em Portugal. O que despertou minha reflexão, quando li a respeito, foi caso do bebê “Lisa Irwin”, uma menininha de dez meses de idade, desaparecida de dentro de sua casa, precisamente, de seu berço, em Kansas City (Missouri), desde as 4h do dia 3 de outubro de 2011, filha dos desconhecidos Deborah Bradley e Jeremy Irwin.

Desde então, o bebê consta da lista dos desaparecidos ou procurados (wanted) no site governamental do FBI, com fotos, em perspectiva, de sua aparência atual, produzidas com computação gráfica, mas não houve mudanças no campo investigativo, nem atualizações no “Caso Lisa Irwin”, mesmo havendo anunciada uma recompensa em torno de 25 mil dólares para quem der notícias que viabilizem a localização da menina.

Como um bebê desaparece do berço? Na noite anterior, Deborah Bradley colocou a bebê e os outros dois filhos (um só dela e outro só de Jeremy) na cama, cada um em seu quarto. Sentou à frente de casa e começou a tomar umas “canecas” de vinho com a vizinha, até quando decidiu que já era hora de entrar e ir dormir.

Jeremy Irwin havia, naquele dia, começado um trabalho extra à noite. Deveria ter chegado mais cedo; porém, atrasou-se e chegou pelas 4h. Estranhou que a porta de acesso ao interior da casa estava aberta. Foi de quarto em quarto e todos dormiam, menos Lisa, que não estava no berço e em lugar nenhum da casa. Acordou a esposa e os outros filhos. Além da porta aberta, uma janela lateral (muito pequena), estava um tanto levantada, mas sem nenhum indicativo de invasão. Procuraram por tudo, em casa e na vizinhança, mas não encontraram nenhum sinal do bebê.

O casal logo acionou a Polícia. Todos os esforços foram empreendidos, mas nada de encontrar Lisa. Chegaram a suspeitar de Deborah, mas nenhuma prova confirmou a suspeita. Depois, de um andarilho, porque, da residência dos Irwin, foram levados também três telefones celulares, dos quais uma ligação foi feita para uma namorada da tal pessoa, mas ela negou tivesse atendido e nada sabia informar.

Fiquei pensando no desespero de quem tem um familiar nessa situação, não sabendo se está vivo, se está morto; se vivo, como é sua atual aparência. Como deve se sentir sem um ritual de passagem? Que esperanças alimenta, especialmente no Brasil, onde a autoria da imensa maioria dos crimes não é identificada? Que chances tem, a família, de saber do destino dos desaparecidos, depois de eles terem entrado para um grupo chamado “Estatística”? Mais: como pensar em políticas públicas, em termos de investigação desses casos, se nem para os seres humanos presentes elas são suficientes (isso que não estou falando dos “invisíveis”, aqueles que o Estado finge não ver)?

Não tenho a resposta de como mudar isso, mas acho que deveríamos pensar em aprimorar os meios investigatórios desses casos. O Banco de DNA é um bom começo, mas, no Brasil, essa matéria está muito longe de ser pacificada. Torço para que isso mude, sinceramente, um dia.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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