Comentário de Sílvia Regina. (Foto: Reprodução)
Outro dia, em minha participação no Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan da Serra, falei sobre uma obra perturbadora que li faz algum tempo chamada “Contra a Perfeição”. Ela é do filósofo contemporâneo de Harvard Michael Sandel.
E a obra é perturbadora porque ela propõe um contraponto dos avanços tecnológicos por meio dos quais o homem já não quer apenas dominar a natureza: ele quer fazer as vezes do “Criador” (para os Cristãos, Deus) com perfeição.
O foco é o desenvolvimento de técnicas de reprodução assistida e comercializada a tal ponto que, na atualidade, por meio de “Bancos de Material Genético”, já é possível que os pais escolham (e paguem por isso) as características físicas e intelectuais dos filhos reproduzidos dessa forma, ou seja, predefinindo e projetando expectativas pessoais sobre quem ainda não foi gerado e ainda nem nasceu (o que deve trazer uma carga enorme de exigências, cobranças e conflitos, pois, afinal, é inafastável o dilema para o ser assim concebido: “Eu sou o que sou por meus méritos ou porque alguém escolheu para mim o que eu devo ser, e eu apenas sigo essa cartilha?
É verdade que, do ponto de vista cultural, isso já foi uma realidade marcante (os filhos serem o que os pais queriam que eles fossem) e receio que ainda é uma realidade em muitos lares. Porém, o enfoque de Sandel é a Biogenética.
Ainda penso muito sobre outro aspecto que a obra enfoca e que diz respeito ao que fazer com os embriões excedentes das inseminações “in vitro”, ou seja, os óvulos que foram fecundados, formando “embriões”, mas não serão implantados no útero da futura mãe. O que faremos com esses seres já concebidos? Descartarmos, sem mais?
Não abandonei a ideia de desenvolver um estudo, em nível de pós-doutorado, tendo por objeto essa temática, tanto do pondo de vista filosófico, como teológico, biológico e jurídico. Sei que ele está sendo enfrentado por um ramo do conhecimento chamado “Bioética”, mas não sei em que domínios esse saber anda.
Porém, quando lembrei recentemente dessa obra específica do Michael Sandel, eu a trouxe para uma realidade mais cotidiana: a perfeição que esperamos dos outros, muito mais que de nós mesmos.
É curioso que as pessoas, em termos de perfeição, sempre queiram corrigir os outros ou modificar as coisas a partir dos outros. São nossos amores, nossos pais, nossos filhos, nossos irmãos, nossos amigos que precisam ser perfeitos. Temos satisfação em conviver com as qualidades das pessoas (e isso parece determinante de nossas escolhas), mas enorme dificuldade de conviver com os defeitos que cada pessoa de nossas relações tem.
Idealizamos as pessoas, tal qual na “eugenia” objeto da abordagem de Sandel, só que fazemos isso fora dos tubos de ensaio: “Ela é toda, toda, toda perfeitinha”. Daquela parte “complicada e perfeitinha, você me apareceu”, como na canção dos Raimundos, ninguém lembra ou quer saber. A parte complicada, deixemos para lá.
E a verdade é que temos pouca vontade de tolerância para essa parte; o problema é sempre do outro; somos nada flexíveis e receptivos a defeitos, e mais: quase nunca estamos dispostos a compreendê-los a partir de nós mesmos, das nossas próprias insuficiências é imperfeições.
Nesse ambiente reflexivo, veio-me à mente oura canção, uma dos Titãs (Epitáfio), que diz: “…Queria ter aceitado as pessoas como elas são; cada um sabe a alegria e dor que traz no coração”.
É raro colocarmos isso em prática: quase nunca temos a real dimensão de entender, compreender e aceitar a dor e a alegria que as pessoas trazem no coração, e sem essa capacidade, somos incapazes de transcender os defeitos de nossos amigos e amores, desconhecendo os nossos próprios e nossa responsabilidade de aceitar as pessoas como elas são e apesar dos defeitos que elas têm.
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