Geral

Coisas estranhas acontecem nesta Democracia

Sou do tempo em que não se votava para Presidente da República. Na época, eu nem sabia por quê. Também sou do tempo em que só havia dois partidos políticos e lembro bem disso.

Havia disputa, mas não havia guerra como hoje se acha instalada. Era uma espécie de “Guerra Fria”, com um certo tensionamento, mas as famílias, as amizades, as pessoas, enfim, não adoeciam por causa da Política. A Segunda Guerra Mundial havia ‘acabado’ embora seus efeitos nefastos ainda eram sentidos.

Percebo, nos dias de hoje, que a disputa político-ideológica adoeceu, de um modo geral, as pessoas e a sociedade inteira, ressuscitando em alguma medida o bacilo da peste de que falou Albert Camus.

“Ressuscitando” nem seria bem a palavra certa, porque, como bem lembra o referido autor ,”o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa; espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada”.

Li, outro dia, no “Fascismo Eterno”, do Umberto Eco (o livro é uma palestra que o Filósofo italiano proferiu na Universidade de Colúmbia) uma passagem que me chamou demais a atenção justamente neste ambiente de permanente hostilidade política por toda parte e que dizia assim: “Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que eles não podem repetir o que fizeram”.

É aí vem a parte interessante, quando o autor indaga: “Mas quem são eles”? A palestra data de 1995 e parece ter sido escrita para o Brasil de hoje, em que a disputa política torna até ambientes de tradicional amor e amizade em hostis.

Parece que não aprendemos nada com o passado. Como o próprio Eco referiu, eu posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”.

Arrepia-me pensar que “Fascinação” não é só uma música linda. É também expressão que carrega em si a ideia de dominação (fascista).

As pessoas andam, sim, dominadas pela irracionalidade; fascinadas pela crença no “nós e eles”; se você não vota como eu, então, você não presta em nenhum aspecto da vida. É inimigo; é inferior em nome de uma superioridade que se acredita ter. Por isso, as pessoas estão adoecidas, cheias de retóricas e vazias de filosofia (sabedoria), a ponto de tolerar o intolerável, numa espécie de paradoxo da intolerância. (Karl Popper).

Falam de liberdade, essencial à democracia, mas não a praticam; querem ser respeitadas, mas não respeitam. Os sedimentes livres vivem sob dominação-fascinação. É surreal essa Democracia.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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