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Caso Kiss: começam os debates entre acusação e defesa

Teve início na tarde desta quarta-feira, 9 de dezembro, no nono dia da sessão do júri do processo principal da tragédia da boate Kiss, os debates entre acusação e defesa. Os réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da boate, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, vocalista e produtor da banda Gurizada Fandangueira foram denunciados pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por 242 homicídios e 632 tentativas de homicídio com dolo eventual.

Às 16h14, iniciando os debates, o promotor de Justiça David Medina da Silva apresentou argumentos do Ministério Público para condenar os quatro acusados por homicídio com dolo eventual. “Vamos parar com esse mito que se estabeleceu de que eles queriam matar. Ninguém aqui queria matar. Só um insano diria que eles queriam. Mas eles deveriam ter agido para que aquilo não acontecesse”, afirmou David. Argumentou ainda que é uma questão de ter proporcionalidade. “Qual dessas penas é mais proporcional ao que aconteceu: 6 a 20 anos por dolo ou 1 a 3 anos por culpa?”

Sobre a ausência de sinalização na boate salientou: “se havia indicativo de saída de emergência, como se disse aqui, porque tanta gente morreu assim, empilhada no banheiro, procurando a única luz que tinha?” O promotor encerrou sua participação declamando trecho da música “Pedaço de Mim”, de Chico Buarque.

Com atuação em mais de mil júris, a promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari, falou depois do assistente de acusação, encerrando o tempo do Ministério Público nesta primeira parte dos debates. A promotora iniciou dizendo que o processo da Kiss foi o mais extenso e difícil da sua vida. “Pelo tamanho? O tamanho a gente supera. É por começar a ler e chorar em cada página, pela dor que cada depoimento carrega.”

Salientou ainda que está sendo julgado “aquilo que nós queremos para a nossa sociedade amanhã. ‘Kiss que não se repita’: nós estamos aqui para dizer isso”. Utilizando uma lousa, a promotora Lúcia colocou os nomes dos quatro réus um abaixo do outro e discorreu sobre a participação de cada um deles na tragédia.

Ao lado do nome do réu Elissandro, escreveu “dono”, referindo-se ao fato de que a boate era da sua família. Ao se mencionar o vocalista da banda, o réu Marcelo, destacou que usou o artefato pirotécnico no braço, alcançando uma altura de 2,16 metros, conforme apontou laudo da perícia. “O que mais me choca é que nunca houve a intenção de avisar ninguém”, apontou, exibindo um vídeo em que o músico larga o microfone no chão sem comunicar os frequentadores sobre o fogo.

Lúcia mostrou o crachá que Luciano Bonilha usava na noite da tragédia, apreendido, onde constava “produtor de palco”, e chamou a atenção que não havia nada chamuscado. Também exibiu trechos de depoimentos de testemunhas que trabalhavam no supermercado que ficava em frente à boate, afirmando que os músicos da banda Gurizada Fandangueira foram os primeiros a chegar no estacionamento e que saíram pelo acesso de fumantes.

Ainda, a promotora, ao mostrar materiais de divulgação da banda, reforçou a tese de que os donos da Kiss sabiam que a banda usava pirotecnia em seus shows. Cartazes antigos exibem elementos gráficos como chamas e informavam o uso dos fogos como uma marca do grupo. Outro depoimento apresentado deixou claro que a preparação para o show de fogos para a apresentação de 27 de janeiro de 2013 foi explícita e simultânea à passagem de som, momento em que os sócios da boate estavam lá, corroborando com a tese de que sabiam da pirotécnica.

Outra prova apresentada foi a nota da compra das espumas e um vídeo que exibe o funcionário da loja onde foi comprado o artefato pirotécnico. Ainda, em outro depoimento, um segurança da Kiss revelou: “Kiko me fez segurar um pouco a porta”, confirmando que impediram a saída dos frequentadores enquanto a casa noturna queimava.

Por fim, a promotora Lúcia Callegari mostrou vídeo com fotos das vítimas, imagens e áudios da noite da tragédia e terminou sua manifestação dizendo: “Estamos julgando o que queremos não só para Santa Maria, mas para o Brasil e até para o mundo. Estamos aqui para dizer se aprovamos ou não aquela conduta. Nós temos família, filhos. Eu quero dizer para o meu filho: ‘Se tu estiver numa casa com aquelas condições, te retira.’”

Depois das manifestações da acusação, iniciaram as argumentações das defesas dos quatro réus. Às 23h39, o juiz Orlando Faccini Neto interrompeu o nono dia de sessão. Às 10h, serão retomados os trabalhos com a réplica do Ministério Público, seguido da tréplica das defesas. Depois, o juiz se reúne com o Conselho de Defesa, que dará o veredito.

Fábio Carnesella

Jornalista com pós graduação em comunicação digital. Atua no jornalismo desde 2002, com passagens por diversos emissoras da serra gaúcha. Assessor de imprensa na Câmara dos Deputados e Diretor de Comunicação da Prefeitura de Flores da Cunha.

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