Aumento de preços de medicamentos compromete finanças de hospitais na região da Serra

Novos depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o aumento de preços de medicamentos utilizados no tratamento da Covid-19, na tarde de segunda-feira (31), apontam para o desequilíbrio econômico-financeiro de instituições hospitalares durante a pandemia. Em sua nona sessão, a CPI da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que é presidida pelo deputado Thiago Duarte (DEM), seguiu ouvindo gestores de hospitais do interior e da capital.

De acordo com a Rádio Amizade, questionada pelo relator da CPI, deputado Faisal Karam (PSDB), a diretora do Hospital São Carlos, de Farroupilha, revelou que antes do início da pandemia o estabelecimento gastava cerca de R$ 240 mil por mês com a aquisição dos itens que compõem o kit intubação e que agora, para comprar os mesmos medicamentos, é preciso dispor de mais de R$ 1,3 milhão. Janete Toigo disse que a compra dos fármacos para o tratamento de pacientes com o novo coronavívirus é a principal causa do desequilíbrio financeiro do hospital. Segundo ela, medicamentos como Atracúrio e Propofol tiveram aumentos de até 270%, de 2019 a 2021.

Na maior rede de atendimento público do Sul do País, o Grupo Hospitalar Conceição, a situação não é muito diferente. O diretor-presidente do GHC, Cláudio da Silva Oliveira, admitiu aos deputados que a disparada dos preços e do consumo dos itens do kit intubação têm impacto no orçamento da instituição, que opera com um déficit de R$ 3 milhões por mês. Seguindo ele, 30% do custeio é destinado à aquisição de fármacos.

Responsável por 35% do atendimento público na Região Metropolitana de Porto Alegre, o GHC não registrou falta de medicamentos para a Covid-19, mas enfrentou dificuldades para a aquisição. Alguns itens, segundo Oliveira, tiveram altas de mais de 100% em 2020, como a Atracúrio (154%) e o Propofol (118%). A instituição não fez nenhum pagamento antecipado, como ocorreu com outros hospitais, mas recebeu lotes de produtos fracionados.

Caxias do Sul

O Hospital Pompéia, de Caxias do Sul, também enfrentou aumento exagerado de preços, especialmente, de anestésicos, relaxantes neuromusculares e de luvas de látex. O gestor da instituição, Diego Berenstein, afirmou que o Apracúrio teve uma variação de 126% e a Morfina de 529%, em um ano. Para evitar o desabastecimento, a instituição recorreu à importação de medicamentos da Argentina e da Índia.

No Hospital Geral, também de Caxias do Sul, as dificuldades são semelhantes. O diretor Sandro Junqueira disse que, em momento algum os estoques de itens do kit intubação chegaram a acabar totalmente, mas que foi preciso fazer empréstimos com outros hospitais para garantir o atendimento. Hoje, o HG geral tem estoque para dez dias e está importando medicamentos. Junqueira revelou também que a instituição registrou um déficit de R$ 1 milhão nos últimos dois meses.

Enfermeiros

O coordenador do Departamento de Fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren/RS) também depôs nesta segunda-feira. João Carlos da Silva falou sobre as dificuldades enfrentadas pela categoria, especialmente, no início da pandemia. Segundo ele, a entidade recebeu inúmeras denúncias de falta, inadequação e má qualidade de equipamentos de proteção individual, falta de capacitação para lidar com a nova doença e sobrecarga de trabalho.

Na próxima semana, a CPI realizará novas visitas técnicas a hospitais do interior. Dia 9, serão visitadas instituições dos municípios de Espumoso, Não-me-toque e Tapera. Dia 10, será a vez dos hospitais de Ibirubá, Cruz Alta, Panambi e Ijuí receberem delegação da CPI.

Participaram da reunião os deputados Dr. Thiago Duarte, Faisal Karam, Clair Kuhn (MDB) e Vilmar Zanchin (MDB).