Geral

Apadrinhamento afetivo

Prezados, perdoem-me a sinceridade, mas assisti uma reportagem sobre o tema do título e fiquei com vergonha do egoísmo que nos assola de um modo geral. Por vezes, eu me sinto meio hobbesiana, duvidando da bondade humana.

Hobbes, se lembram, foi aquele primeiro pensador do Estado como um “Contrato Social”, propondo a concentração de todo o poder político e jurídico nas mãos do Monarca (o Rei), ou seja, concentrado nas mãos de uma única pessoa, sem que se pudesse opor direito contra ela e sem que ela tivesse também qualquer responsabilidade pelos seus atos, cumprindo-lhe apenas garantir segurança aos “súbditos” contra agressões de uns contra os outros ou agressões externas.

E Hobbes pensava assim por que acreditava vivamente que o homem, fora do Estado, vivia em permanente estado de guerra de uns contra os outros. Daí a máxima de que “o homem é o lobo do homem”.

Por detrás desse homem pensado por Hobbes não está um humanismo altruísta, nem a alteridade, mas um individualismo egoísta que faz sentir muito atual em países como o nosso de gigantescas desigualdades sociais. O homem, em verdade, não quer o estado de guerra. Não quer guerrear: quer é cuidar do seu próprio umbigo. Desde que ele esteja bem, o que interessa os outros?

Senti isso precisamente ao ver a reportagem antes referida e que mostrava situações de apadrinhamento afetivo proporcionadas por pessoas que têm muito pouco ou quase nada; que suam na labuta para ganhar o pão de cada dia e que, mesmo assim, acham tempo (o tempo não é desculpa) para dedicar algumas horas do mês, a quem se acha afetivamente abandonado e querendo só um pouco de carinho, afeto e atenção, ou mesmo um aconchego familiar.

O apadrinhamento afetivo, para tornar mais claro o que eu digo, nada mais é do que uma prática solidária de apoio afetivo a crianças e adolescentes que vivem em instituições de acolhimento, em geral, aqueles com chance remota de retorno à família de origem ou adoção, ou que estão por muito tempo em instituições e adolescentes com idade próxima ao desligamento (18 anos).

Dá para contar nos dedos número de pessoas que tiram uma hora do mês para se preocuparem com os outros. Não falo de doar uma importância em dinheiro, porque isso encontraremos aos montes, desde aqueles que, em benemerência, doam grandes fortunas até aqueles que ajudam numa “vaquinha solidária”. Falo de uma outra expressão da solidariedade: de compromisso efetivo, de acolhimento, de dividir afeto para somar, coisas que o nosso egoísmo individualista não permite assumir.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

Recent Posts

Autor de homicídio na Zona Norte de Caxias do Sul é preso

O preso é acusado de homicídio consumado em abril no Loteamento Morada dos Alpes, na…

24 minutos ago

Comércio de Caxias do Sul poderá abrir com funcionários no Dia das Mães

Permissão também abrange o comércio varejista de Flores da Cunha, Nova Pádua e São Marcos;…

24 minutos ago

Identificados mortos em colisão frontal na BR-470, em Nova Prata

Os dois veículos bateram de frente no km 154 da rodovia, por volta das 7h30

57 minutos ago

Ícone da comunicação, Paulinho das Quebradas volta à programação da Rádio Viva

Top of Mind e mais de 30 anos como líder de audiência, o comunicador voltará…

1 hora ago

Homem é preso após atirar no vizinho em briga por cão e gato em Caxias do Sul

O cão do autor do disparo matou o gato da vítima dias antes. Na sexta-feira…

1 hora ago

Câmara de Pinto Bandeira vota contratação de profissionais e apoio a projeto sobre trabalho rural

Sessão de 6 de maio tratará de contratações na saúde e veterinária, além de projeto…

2 horas ago

This website uses cookies.