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Alles leben ist Leiden?

Toda a vida é sofrimento? Você já pensou assim? A gente nasceu para sofrer?

Saiba que você não foi o único. O Polonês Arthur Schopenhauer, de um pessimismo extremo, pensou exatamente assim. Para ele, a vida é uma coisa angustiante. Angustiante? Ora, Silvia, angustiante é a vida de quem trabalha, trabalha e trabalha, e não consegue prover o seu sustento. Está sempre correndo para pagar boletos. Não pode ser angustiante ou sofrimento a vida de quem vive endinheirado em mansões, festas, iates, e de quem não precisa se preocupar que sobrou mês no final do dinheiro.

Mas você já reparou quantos ricaços e famosos se atiraram nas drogas (lícitas e ilícitas) e morreram de overdoses ou mesmo se suicidaram? Obvio que eles não tinham boletos a lhes preocupar. O que era então? Schopenhauer explica.

Tal como Kant, Schopenhauer sustenta que o conhecimento que a gente tem das coisas é a percepção que nós temos delas. Nós não conhecemos a coisa em si; apenas a conhecemos segundo nós mesmos a percebemos. É dizer, quando você pensa que está conhecendo algo, na verdade, você não está conhecendo, mas, sim, está percebendo como algo é para você.

É por isso que dois seres humanos olham para uma mesma pessoa, e um deles acha o terceiro lindo, quando o outro o acha feio, pois cada um percebe à sua maneira. Igualmente é por isso que, quando estamos apaixonados por alguém, temos uma percepção idealizada daquela pessoa. Logo, não devemos sair por aí achando que todo mundo deve perceber as coisas como nós a percebemos.

Se cada ponto de vista é a vista de um ponto, Schopenhauer vai concluir que a nossa percepção é uma “representação” do Mundo para nós mesmos (ele tem até uma obra intitulada “O Mundo como Verdade e Representação”). Não podemos querer que todos percebam como nós mesmos, pois a minha representação de mundo pode ser distinta da sua e da de outras pessoas.

E por que a vida é sofrimento? O que a minha percepção do mundo tem a ver com isso, Silvia?

Explico e, com essa explicação, você entenderá por que mesmo os “sem boleto” sofrem, sofrem tanto e até se suicidam.

O pensamento de Schopenhauer se alicerça em algo que se chama “vontade”. Vontade é algo que todo mundo tem. Elas são das mais variadas. E a vontade é algo extremamente inconveniente. Muitas vezes a temos em momentos em que não poderíamos tê-las, em momentos mais inoportunos possíveis. A vontade é imperativa, ou seja, ela simplesmente vem. Além disso, ela é cega e complemente irracional. Ela não está nem aí para verificar se o que se quer é certo ou errado, boa ou ruim. A vontade é uma “criança mimada”. Ela simplesmente quer, quer e quer.

A vontade é literalmente uma “luta egoísta” (ego=eu e ismo=uma ideologia; uma ideologia do eu). E quando nossa vontade, seja ela qual for, não é satisfeita, ela causa dor, causa sofrimento na gente. É a frustração do querer e não poder. Não há prazer em não conseguir realizar uma vontade.

Por outro lado, seja a vontade que for, independente da condição econômica da pessoa, assim que a realizamos, vem o tédio, parece que aquilo deixa de ter tanta importância, e isso acontece inclusive para aqueles que queriam fama e dinheiro e que, uma vez no topo disso tudo, se sentem enfadados, sentem um vácuo, um vazio existencial. Quando eles se matam por isso, pensamos: “caramba, ele (ou ela) tinha tudo!” Se tinham tudo, por que continuavam sofrendo? Schopenhauer responderá: porque a vida toda é sofrimento, uma verdadeira cadeia de desejos insatisfeitos; que o prazer é ilusão, porque o homem está sempre desejando algo ou no tédio. O homem é um ser “desejativo”.

Acalme-se. Nem tudo está perdido, porque Schopenhauer, influenciado pelas Religiões orientais, especialmente o Budismo e o Induísmo, encontrou três formas de purificação do ser humano. A primeira, é a “compaixão”, um ato de empatia, ou seja, se colocando no lugar do outro e sentindo a dor do outro, não raro muito maior que a nossa.

Mas, Silvia, se eu sentir a dor do outro, não aumento minha dor? Não! Diminui, porque eu percebo, por exemplo, que o meu desejo em ter me frustrado, por exemplo, porque não pude ir a algum lugar é nada, comparado com a dor de quem perde um filho. A dor de quem perde um filho é tendencialmente menor do que a dor de quem perde a família inteira. Também o nosso desejo se torna menor diante de alguma coisa que se projeta de forma mais elevada: o sofrimento de outra pessoa.

A segunda forma de purificação se dá por meio da estética, da arte, especialmente da música, porque a arte nos coloca na perspectiva de contemplação, o que nos permite aplacar, diminuir essa tirania egoísta de nossa vontade que é cega e irracional. A arte permite acalmar o espírito infantil da vontade. Tanto é que Schopenhauer disse, certa vez, que “a música é um exercício de metafísica inconsciente, no qual o espírito não sabe que faz filosofia”. Isso porque a música nos permite dialogar com os nossos sentimentos.

Por fim, a terceira purificação é ascética, só alcançável pelos iluminados, aqueles que se desapegam totalmente do mundo material. Tornam-se a eles indiferente. Alcançam um estado de imperturbabilidade que já não lhes faz qualquer diferença com o que acontece no mundo da matéria. Terá tido fim do desejo. Sinceramente, nem sei se sobrará aí algo de humano.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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