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Alice sem GPS

Escrevi, faz algum tempo, para outro meio de comunicação, um texto sobre uma passagem de “Alice no País das Maravilhas”. Era aquela em que Alice queria sair do bosque e, não sabendo como fazê-lo, perguntou a um gato – que estava sentado num toco de árvore perto dela – qual era o caminho que ela devia seguir.

E o gato respondeu:

– Depende. Depende do lugar para onde você quer ir!

Alice respondeu ao gato que tanto fazia por onde sair, porque estava perdida, ao que o gato retrucou:

– Nesse caso, tanto faz o caminho que você siga!

De fato, dá igual o caminho que sigamos, se não sabemos aonde queremos chegar. Sábio o gato ao observar que, para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.

É mais ou menos o que acontece com quem não sabe o que quer e acaba perdendo o que tem e, às vezes, descobre que perdeu exatamente o que queria.

Tenho pensado nesse texto a propósito da disputa eleitoral e o que ela tem produzido em vários estratos vida social nos quais as pessoas querem o conflito, o confronto, o desgaste, o enfrentamento bruto, sem ter bem definido o lugar para onde querem ir.

Não têm um projeto de futuro. Não têm uma real pretensão de crescimento enquanto sociedade, enquanto pessoas; enquanto famílias. É como se umas fossem mais pessoas que as outras. Não há mais respeito nem piedade nem mesmo naqueles que professam fé Cristã ou qualquer outra. Uma fé impiedosa, que marca a ferro e fogo as diferenças.

Vejo fanáticos de todos os lados, todos sedizentes democráticos, mas praticando, em verdade, a antítese da expressão, a antidemocracia, a antiliberdade, que implica não saber conviver com as diferenças e com opiniões divergentes o que, aliás, é da essência da Democracia.

Não por acaso a Democracia é feita de “partes” (e daí a expressão “partidos”), porque, se assim não fosse, viveríamos qualquer outro regime político menos o democrático. Seria a “odiocracia” (de parte a parte), em que todo mundo que não pensa igual ao outro é jumento.

É jumento de lá e jumento de cá. Parece que não aprendemos nada no genocídio histórico (recente até) ancorado na ideia de uma raça superior. Além disso, partido único, ideia única, imposta ou incutida por qualquer modo de dominação, venha de onde vier, é própria de Estados Totalitários: o Estado do não-Direito, avesso aos direitos humanos.

Estamos mimiografando o passado em vez de imprimir o futuro?

Estamos feitos Alice, tentando uma saída sem saber para onde ir, nada obstante nossas preferencias ideológicas? Ora, elas não nos fazem mais humanos nem melhores uns que os outros.

Que termine logo essa disputa insana. E que termine de forma pacífica, com o respeito que a própria humanidade exige. Já perdemos muito por falta de consciência da interdependência humana.

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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