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Abandono afetivo autoimposto e suas feridas

“Tu diz pro meu pai pra ele brincar comigo, senão, eu não quero mais ir lá na casa dele”, disse uma criança de apenas cinco anos de idade à Psicóloga que o entrevistava e avaliava por determinação judicial.

Caiu um cisco aqui no meu olho, quando li isso, literalmente escrito em um laudo, coisa que destrói o coração de mãe e de qualquer ser sensível.

Falo “mãe”, mas bem poderia ser coração de pai também, já que, embora, de regra, as mães sejam protetoras e não abandonem afetivamente seus filhos, há lá suas muitas exceções (já que existem mães que matam filhos e o revés também acontece).

Mas estou falando de gente viva, que existe aos montes por aí, e que, lá pelas tantas, rompe uma relação conjugal, constrói outra e, com isso, de repente, rompe também a relação parental com os filhos havidos do primeiro relacionamento, fazendo com que estes se sintam excluídos do seu amor e de sua vida.

A isso se chama “abandono afetivo”, por autoalienação parental”, aquela que é autoinfligida por um dos genitores, ou seja, autoimposta, pois não é decorrente de uma oposição caprichosa do outro genitor ao exercício do direito de visitação (que, aliás, é dos filhos e não dos pais).

Existem muitas situações que demonstram o abandono afetivo que, registre, não se desfaz por mera presença física, sem a concomitante presença de alma.

Reparem nesses “sinais”:
– O pai combina um horário, a criança se arruma, espera, cria expectativas, e o pai não vem, não avisa que não vem nem justifica por que não vem;
⁃ O pai leva o filho no dia de visita, mas, em vez de ficar com ele e fazer um programa legal, deixa a criança na casa e aos cuidados dos país, e adeus “tia chica”;
– O pai leva o filho no dia de visita, deixa a criança em frente à TV, jogando videogame, enquanto se diverte de outra maneira;
– O pai simplesmente não aparece nunca;
– O pai vem, leva a criança ao shopping (sempre no mesmo lugar), dá um sorvete ou um lanche a ela, sem muitas palavras, e a devolve em casa para a mãe o mais breve possível;
– A criança está doente, mas o pai não liga, não se importa, nem vem visitar.

Essas são apenas algumas manifestações de autoalienação parental. Indago, contudo: estanha a alguém que uma criança assim tratada elabore um sentimento de “filho estorvo”, de menos valia, de “abandonado”, carente de amor de paterno, já que o próprio pai a trata (consciente ou inconscientemente) como se fosse algo estranho e externo à sua vida, como se dela não fizesse parte?

Mães que agem assim costumam ser vistas como parideiras. Os adultos, para os pais, talvez os adjetivassem de “canalhas”.

Eu concordo com esta última ideia, mas tenho um sentimento ambíguo em relação a isso, pois acho que, seja homem ou mulher, é pessoa psicologicamente doente, perturbada, que necessita tratamento, não só por perde algo muito precioso na vida (a vivência plena do amor parental), mas porque dão causa a que se abram feridas dilacerantes, nem sempre fáceis de serem superáveis nas vidas de crianças que serão os adultos de amanhã e repetirão comportamentos.

Rezo, ao menos, que aprendam como não ser com os seus próprios filhos!

Silvia Regina Becker Pinto

Advogada e Professora. (espaço de coluna cedido à opinião do autor)

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