Caxias do Sul

Caxiense realiza sonho de infância e trilha caminho no futsal italiano

Aos 26 anos, Douglas Radaelli vive há oito no País da Bota e segue com o desejo de vestir a camisa da Seleção Brasileira

Caxiense Douglas Radaelli já atuou por cinco clubes italianos
Caxiense Douglas Radaelli já atuou por cinco clubes italianos (Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação)

O tempo médio de uma viagem do Brasil para a Itália é de pouco mais de 11h de avião. Para quem carrega consigo um sonho desde criança é uma distância curta. Da infância no Bairro Bom Pastor, na Zona Sul de Caxias do Sul, até a vida adulta em Roma. Do início promissor na tradicional escolinha do América Rio Branco às quadras do futsal italiano. A história do caxiense Douglas Radaelli Machado, 26 anos, têm muitos capítulos. Há oito anos no País da Bota, ele abriu o coração em entrevista ao Portal Leouve, e contou sua experiência no Velho Continente.

Mas antes de ir à Europa, Radaelli deu os primeiros passos no futsal caxiense aos cinco anos, tendo como principal inspiração os primos. Após uma breve passagem pelo futebol de campo no Esporte Clube Juventude, retornou às quadras na escolinha do Vasco da Gama. Na adolescência, teve uma aventura fora de Caxias, atuando pela Associação dos Motoristas São-Marquenses com a oportunidade de disputar competições estaduais.

Quando estava com 14 para 15 anos veio o primeiro grande salto na carreira. A Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF), dos maiores clubes do mundo na modalidade, realizou um “peneirão” com cerca de 200 jovens. Em casa, ao lado do pai, entendeu que era o momento de arriscar.

“Nunca tive um plano B na minha vida. Sempre fui aquele cara de correr atrás dos meus sonhos e vi Carlos Barbosa como uma oportunidade para isso e não pensei duas vezes, me joguei de cabeça”, revelou. Ele disse que foi um momento de adaptações, principalmente pela mudança de cidade.

Douglas ficou por aproximadamente um ano e meio na capital brasileira do futsal, quando surgiu a oportunidade de mudar de vida a milhares de quilômetros de distância de casa.

Do início conturbado ao destaque na Itália

Antes mesmo de completar 18 anos ele rumou para a Itália. A primeira missão foi finalizar o processo de cidadania italiana, o que também lhe trouxe certa tranquilidade para morar no País da Bota. Apaixonado por futsal e sem querer ficar longe do esporte, pediu para um amigo a chance de realizar um teste no Bisceglie Calcio a 5, sendo aprovado após uma semana de treinamentos.

Mas, fora das quadras, os primeiros passos em solo italiano foram conturbados. Distante da família e amigos, precisou buscar forças para se concentrar e seguir no seu propósito de vida.

“No início foi um pouquinho perturbador, mas eu sabia que era algo que eu queria seguir”.

O futsal italiano é divido em três principais divisões, a Série A, Série A2 e a Série B. Douglas Radaelli teve experiências nas duas divisões inferiores, conseguindo em sua carreira dois acessos da Série B à Série A2, conquistas celebradas por ele e que deixam vivo o sonho de disputar a principal competição no país europeu. Além disso, segue nutrindo o sonho de um dia vestir a camisa da Seleção Brasileira de Futsal, mesmo sem fechar as portas à italiana.

“Sempre tive o sonho de vestir a camisa do Brasil, mas claro que não negaria de maneira nenhuma a camisa italiana”.

Além do Bisceglie Calcio, também vestiu as camisas de Grosseto Calcio a 5, Fossano Calcio a 5, Elledifossano e, por fim, do Città di Anzio, que se despediu nesta semana. Na última temporada, teve destaque na Série B, foram 21 partidas, 16 gols e 11 assistências. Ele brincou que mesmo balançando as redes muitas vezes, sua posição, equivalente ao fixo no futsal brasileiro, é mais voltada à marcação.

A vida na Itália fora dos gramados e o futuro

Jogar na Europa vai muito além de estar dentro de uma quadra ou treinar. Para Douglas Radelli, é necessário se integrar na sociedade, buscar conhecer o local em que está inserido e se conectar com o país. Os oito anos de Itália lhe proporcionaram experiências únicas. Morou na Sicília, Toscana, Piemonte e mais recentemente na capital Roma.

“A gente imagina muito do Brasil como seria morar na Europa, mas por experiência própria, só estando aqui para ter noção de quanta história isso tem”. Ele ainda brincou que a cada dia que sai pelas ruas de Roma se apaixona por algo novo.

Ele se diz apaixonado pela capital italiana

Além das experiências, o caxiense, que se diz uma pessoa extremamente ativa, tem um hobby. Nas horas vagas, além de manter a forma física, trabalha com crianças italianas para auxiliar elas no desenvolvimento dentro do futsal.

É uma coisa que eu penso em fazer no meu pós-carreira que é seguir nessa base de ser um educador, porque poder expressar a ideia para um garotinho de cinco, seis anos, e expressar o que vivenciou, ver esse garotinho com olhos brilhando e te escutando e dando valor não tem nada que pague isso”.

Distância de casa e saúde mental

Desde que a pandemia de Covid-19 chegou entre o final de 2019 e início de 2020, a saúde mental se tornou um dos tópicos centrais em todo o mundo. Com os atletas não foi diferente. Distante da família e sem conseguir “dar um beijo ou tomar o café da manhã junto”, as redes sociais se tornam fundamentais para manter as relações.

“Para matar a saudade, ter o aconchego do pai e da mãe, que é algo que no dia a dia eu sinto um pouquinho de falta. Querendo ou não a gente é adulto, mas o colo da mãe e do pai e as amizades que eu tive até vir para a Itália são algo que eu quero carregar para a minha vida toda”.

Ele comentou que tenta vir sempre o final da temporada europeia, na metade do ano, para Caxias do Sul e rever os pais e amigos, algo que não conseguiu apenas em dois anos desde que se mudou para a Itália.

“Não é fácil. Querendo ou não a cabeça de um atleta está em constante mudança. Acontece que em um treino a gente não consegue dar o máximo, em algum jogo não está 100% e isso acaba afetando no dia a dia. Eu tento me apegar muito nos valores que os meus pais me passaram, e tendo ser muito forte”.

Agora sem clube desde que deixou o Città di Anzio, segue na busca por outra oportunidade na Itália, mas não descarta no futuro retornar ao Brasil. Para ele, disputar uma Liga Nacional de Futsal (LNF), seria a realização de um sonho.