LEGADO CIENTÍFICO

Niède Guidon, uma das maiores cientistas do Brasil, morre aos 92 anos

Pioneira da arqueologia no país, Niède Guidon revolucionou a ciência com descobertas milenares na Serra da Capivara

Foto: Academia Piauiense de Letras / Reprodução
Foto: Academia Piauiense de Letras / Reprodução

A arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon faleceu nesta terça-feira (3), aos 92 anos. Ela deixou um legado inestimável para a ciência, a cultura e o patrimônio histórico do Brasil. Reconhecida mundialmente por suas descobertas na Serra da Capivara, no Piauí, Guidon foi uma das principais responsáveis por transformar a compreensão sobre o povoamento das Américas.

Pioneira na arqueologia brasileira

Nascida em Jaú (SP) em 12 de março de 1933, Niède Guidon formou-se em História Natural pela USP e doutorou-se em Pré-História pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Nos anos 1970, iniciou pesquisas na região de São Raimundo Nonato, onde identificou mais de 700 sítios arqueológicos. Estes incluem 426 painéis de arte rupestre e vestígios de habitações humanas datadas de até 100 mil anos. A hipótese desafiou a teoria tradicional de que o Homo sapiens teria chegado às Américas há cerca de 13 mil anos pelo estreito de Bering.

Dr.ᵃ Niéde Guidon em sua residência, na Fundação museu do homem americano — FUMDHAM, em São Raimundo Nonato — Piauí/Brasil. FOTO: Pedro Henrique Santos.

Criadora do Parque Nacional da Serra da Capivara

Em 1979, suas descobertas motivaram a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1991. Para assegurar a preservação do parque e fomentar a pesquisa científica, Guidon fundou em 1986 a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM). Ela dirigiu a fundação até 2019.

Foto: Wikipédia / Reprodução

Reconhecimento nacional e internacional

Ao longo de sua carreira, Niède Guidon recebeu inúmeras honrarias, incluindo a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Também recebeu o Prêmio Príncipe Claus, da Holanda, e o título de Chevalier de La Légion d’Honneur, da França. Em maio de 2024, foi agraciada com o 36º Prêmio Almirante Álvaro Alberto. O prêmio foi concedido pelo CNPq e pelo MCTI em reconhecimento à sua contribuição para as Ciências Humanas e Sociais.

Foto: Jorge Bastos / Reprodução

Compromisso com o desenvolvimento local

Além de suas contribuições científicas, Guidon foi uma defensora do desenvolvimento sustentável na região do parque. Ela implementou projetos sociais, construiu escolas e promoveu capacitação profissional. Isso transformou a Serra da Capivara em um polo de pesquisa e geração de renda para a comunidade local.

Filme

Em 2020, foi lançado o filme “Niède”, com direção de Tiago Tambelli. O documentário reconstrói o percurso dos primeiros homens que povoaram o continente americano, por meio da história de Niède Guidon.