Caxias do Sul

"Ver as pessoas precisando de ajuda me fez ser voluntário", destaca sargento gaúcho atuante na Ucrânia durante conflito com a Rússia

Sargento atua como médico sênior de combate e relata as dificuldades enfrentadas em um país totalmente desconhecido

(Foto: Montagem/Arquivo pessoal)
(Foto: Montagem/Arquivo pessoal)


Aos 44 anos, Adamir Nivaldo Anghinoni Junior, enfrenta um dos maiores desafios em sua vida: servir a população em uma zona de guerra. O sargento pernambucano com raízes gaúchas, morador de Caxias do Sul, atua como médico sênior de combate na Ucrânia, país situado no Leste Europeu que vive um constante conflito contra a Rússia.

As motivações para o sargento seguir nesse rumo foi a necessidade das pessoas, que estavam e estão sofrendo na zona de guerra. Hoje Adamir atua como médico sênior de combate, lotado no 2º Batalhão da 2ª Legião Internacional de Defesa da Ucrânia. “Além de ser na área de saúde, eu acho que me motivou mais ainda pela questão de eu sempre me doar muito e de querer sempre ajudar pessoas que eu não conheço. Foi assim no SAMU durante 13 anos, é assim na minha vida, durante todos os dias. Resolvi que eu poderia ajudar muito, vindo como paramédico de combate e estando no fronte, ajudando meus amigos, meus irmãos de farda e a população da Ucrânia”. 

Anghinoni possui uma extensa bagagem na segurança pública e na área da saúde. Possui formação como técnico em enfermagem, foi instrutor de tiro esportivo, armeiro, militar, atuou como diretor operacional da área de segurança pública na Prefeitura de Caxias do Sul trabalhando diretamente na Guarda Municipal, além de ter especialidades diversas, inclusive internacionais.

As diferenças de dificuldades enfrentadas de um país para o outro são gritantes. Anghinoni lembra que a Ucrânia é um país que vive em guerra, mas não atual, e sim, de muitos anos. A diferença entre os povos também é algo que o soldado brasileiro nota no país. “Eu sinto mais na questão do brasileiro ser mais caloroso, apesar de alguns estados ter pessoas que não aceitam algumas pessoas de outros estados, mas sinto falta desse calor humano do brasileiro. Aqui, eles são mais frios, aqui eles são mais tristes, eles vão olhar e a gente vê um olhar vago na maioria das pessoas. E isso no começo te impacta um pouco, isso te deixa mal. Mas é o que eles estão passando hoje, essa situação toda”.

“No começo, lógico, dá um pouco de frio na barriga e medo, porém, você acaba se adaptando, quando você tem suas missões, você acaba se engajando mais, te força a aprender um pouco mais sobre o país, cultura, te força a aprender a falar um pouco a língua. A maioria dos estrangeiros que estão aqui, sendo o meu caso, a segunda legião, do segundo batalhão Charlie, onde o comandante é brasileiro, o subcomandante também é brasileiro e outros brasileiros juntos. Fica um pouco mais fácil a nossa comunicação, porém, o inglês aqui se faz necessário, ajuda bastante, te tira de bastante confusões e te coloca em situações melhores”, destaca o soldado, falando sobre as dificuldades em relação à língua e a comunicação com os demais.

O auxílio médico no front

O soldado Adamir também detalha como funciona o trabalho junto ao fronte, no momento de combate. “Meu dia-a-dia aqui vou para os frontes, para as missões onde troco tiros com russos, onde tenho que socorrer pessoas no meio da batalha, já realizei alguns atendimentos onde salvei, literalmente, ao pé da letra, a vida de irmãos de farda, com drones jogando granada, com mísseis caindo, artilharia jogando seu poder de fogo, tiros de RPG e fuzil, e atendendo meus irmãos. Nesses 5 meses aqui, eu tive a perda de um grande amigo, era meu dia de folga, mas, infelizmente, mesmo que eu estivesse no local, eu não teria o que fazer porque ele foi atingido por um tiro de tanque, mas a gente como profissional da área de saúde, a gente se sente um pouco impotente”.

Adamir Anghinoni Júnior veio ao Brasil para passar as festividades de Natal e Ano Novo com a família, porém, retorna para a Ucrânia no dia 16 de janeiro e sem data de retorno definida. A família do soldado, especialmente a noiva e a enteada, estão bastante apreensivos, porém, ele destaca que é seu destino estar no fronte e auxiliando a quem mais precisa.

“Amo minha noiva, amo minha enteada, muito, é o que me mantém vivo aqui, sinto falta da minha cachorra. E essas pessoas que me apoiaram são as pessoas que me mantém vivo. Em outubro levei um tiro no capacete onde, nos 15 segundos, eu fiquei um pouco desorientado por conta da pancada. As únicas pessoas que vieram na cabeça eram meus pais, minha noiva Carol e minha enteada, Rosa. Tive um estalo e eu levantei a cabeça e fui para o front novamente. Só tenho a dizer que amo todos que estão em Pernambuco, minha família que está no Rio Grande do Sul, amo muito dos meus amigos que estão aqui, meus irmãos de farda, o Aquaman, o Ralph, o RJ que é meu sniper, meu braço direito aqui na Ucrânia, o Proença, o Vito, o Gaúcho de Porto Alegre que está aqui também, ele que trouxe minha cuia, meu chimarrão para aguentar esse frio”. O sargento também lembra de mais pessoas importantes em sua vida e que são essenciais nesse momento, sendo Matias Sirtoli, Gauer, Jeferson e Tia Inez, e a equipe da Desmodus.

“A mensagem que falo hoje para brasileiros é que a gente vive num país muito bom, apesar das coisas políticas negativas que acontecem, mas a gente vive num país muito, muito bom, com pessoas muito boas. O que peço para vocês é de coração, se puderem, não importa qual religião, crença, se puderem colocar o joelho no chão em um momento e pedir por cada um de nós que está aqui, para que a gente se mantenha vivo, eu fico grato. Sei que falo isso em nome de todos que estão aqui. Para minha família, eu só quero que eles tenham pensamentos positivos de que eu estou aqui para fazer o meu trabalho, que sei que sou predestinado para isso, que foi o propósito de Deus eu estar aqui”.