Memória LEOUVE

Força Chape!

Força Chape!


Ontem, dia 29 de novembro de 2016, o Brasil (e o mundo) viveu a pior tragédia do futebol brasileiro em um acidente aereo onde 71 pessoas perderam suas vidas.

 

Pelo menos 65 eram diretamente ligadas ao futebol. Entre os que pereceram na tragédia estavam jornalistas conhecidos no mundo esportivo e toda a delegação da Chapecoense. A história vocês infelizmente já sabem, não cabe a mim repetir.

 

Queria aqui relatar o que vi ontem… vi dor, vi muita gente incrédula, vi não só uma cidade parar, mas um país inteiro parar no tempo como se fosse uma pancada na cabeça em que tu fica meio letárgico, meio grogue, meio sem entender como, porque, de onde… mas depois da dor pude ver uma onda de amor, de solidariedade, de boas vibrações. Li tantas coisas boas (as ruins eu nem vou comentar, sempre têm parasitas doentes e aproveitadores), vi alguns vídeos fenomenais; vi o mundo inteiro prestar homenagens e solidariedade às vítimas, ao time, aos jornalistas…

 

Espero que todos nós deste mundo saibamos valorizar um pouco mais as coisas pequenas, que valem realmente a diferença. Um sorriso, um bom dia, um aperto de mão, palavras bonitas, vontades verdadeiras. Esse baque nos fez parar pra pensar e refletir. Quando estouram bombas lá do outro lado do mundo ou quando o terror bate à porta da velho continente parece tudo distante mas ontem foi real, foi com gente da gente. E doeu.

 

Separei alguns textos, vídeos e imagens que vi e li circulando na internet e que gostaria de compartilhar neste espaço. Minha forma de homenagear. Força Chapecó, #forçachape!

 

Fernanda Gentil, jornalista esportiva da Globo:

Mais uma vez a vida fez planos pra gente, e não a gente pra ela… quis ela, sabe-se lá por qual motivo, que esses jogadores, tripulantes e jornalistas tivessem hoje seus sonhos interrompidos, quando o plano deles era apenas seguir. Seguir para um jogo, uma matéria, um destino. Seguir e, sem dúvidas, voltar. Voltar para suas casas, seus trabalhos, suas famílias… mas não vão. A maioria não vai… o Gui Van der Laars, o Ari Junior e o Guilherme Marques, por exemplo, não vão estar mais na redação. Não vão nos brindar mais com os sorrisos deles, com as brincadeiras, com o talento, com a leveza com a qual levavam a vida. E a vida deles não era menos especial que a minha ou a sua, muito pelo contrário! Laars é pai de dois, e o terceiro vai nascer em menos de um mês. Guilherme Marques uma revelação, novo, cheio de vida e sorrisos pra distribuir. Os dois fizeram aniversário semana passada, assim como eu. Por sorte, fazemos em datas diferentes, assim consegui abraçá-los em mais de um dia. E em todos eles trocamos os melhores votos possíveis. Ari era um lord! Espirituoso, talentoso, um homem-sorriso. E hoje, todos esses (e muitos outros) caras fenomenais se foram… e então porque não pode acontecer com a gente? Claro que pode. A vida, antes de ir, ela não manda aviso não! Não comunica, não liga, não tem whatsapp. Aliás, a última mensagem do Gui pra mim no whatsapp semana passada foi "conta comigo, vou estar sempre aqui." Que dor, Gui… você disse que estaria mas não está. E olha, lutei muito pra não acreditar que vocês realmente não estariam mais. Fiz conta, refiz, chequei, li a lista, procurei, fingi que não vi. Procurei de novo, fechei um olho, re-re-refiz as contas, e vi a lista de novo… vocês continuavam lá. Depois da confirmação da tragédia, vem a dor. E da dor nos resta tirar uma lição muito importante: falar enquanto há tempo – falar em vida. Abraçar em vida. Amar em vida. Perdoar em vida. Porque tudo isso é viver a vida. Falar todas as coisas bonitas que falamos pra vocês hoje, para muitas outras pessoas que ainda estão aqui e podem ler/ouvir. Aliás vocês mal se despediram da gente e já ensinaram tantas coisas… tinham que ver o que os clubes brasileiros e do mundo todo fizeram! Todos postando o escudo da Chape! Jogadores mandando recados, fazendo minuto de silêncio! Autoridades decretando luto! Vocês hoje ensinaram que o que importa é a vida, não um jogo, um time, uma cor, uma raça, uma competição. Ensinaram que um título pode sim ser decidido fora de campo; nas nuvens, no céu, num lugar bem melhor que esse aqui, e hoje ele foi: pode avisar aí em cima que "o Atletico, num grande ato de solidariedade, vai dar o título da Sul-Americana para a Chapecoense" (Gui, essa pode ser a frase de abertura do seu vt, eu te empresto a ideia 🙂 ). O Ari eu sei que vai fazer as imagens mais lindas da vida dele, e o Laars vai caprichar nas exclusivas pro Esporte Espetacular desse domingo – que aliás vai ser o programa mais difícil da minha vida. Não aprendi em curso ou faculdade nenhuns a imparcialidade ou frieza jornalísticas necessárias para apresentar num contexto desses – e espero nunca aprender. Prefiro o calor e o sentimento humanos. Prefiro acreditar que o buraco que se abriu no peito de todos hoje trouxe à tona muitas reflexões pessoais, e eu sei que trouxe. Vê se não é assim: a gente pensa em amar mais, julgar menos, nos declarar mais, reclamar menos, agradecer mais, se importar menos, agredir menos, viver mais… e em questão de dias, esse "efeito" passa. Só que a gente não pode esquecer que em questões de dias, a vida também passa. Então esse efeito tem que durar. Então por vocês três, por tantos outros que estavam nesse avião, e, principalmente, pelos amigos e famílias que perderam alguém querido, espero que a nossa reflexão nos faça mudar de verdade; e que dessa vez esse "efeito" dure exatamente o mesmo tempo que a saudade de vocês vai durar – pra sempre.

 

Torcedor da Chapecoense:

Ela era a queridinha do Brasil. O xodó, a graça. Aquela para a qual todos sorriam. A novinha do pedaço. Mal chegou e já se juntou com a "galera", com os "populares": afinal de contas, a Chape faz parte do seleto grupo que nunca caiu. Feito para se respeitar – e aplaudir. Em seis anos, conquistas, vitórias, goleadas e ascensões. Da quarta divisão, para a final de uma competição Sul-Americana. Respeita a Chape. Aqui é Chape. Chape terror. Todos somos Chape. Todos seguiremos. Todos seremos. Todos estamos. Todos ficamos… arrasados. Que triste. Que rasteira. Que aperto. Que dor. Que tragédia. Ei, juiz! Roubaram a Chape. Roubaram a nossa torcida. O nosso sorriso. A vibração. Roubaram o Bruno Rangel, o Caio, o Kempes. Roubaram a Chape. Roubaram o Victorino, o PJ, o Mário Sérgio. Ei, não estão vendo?! Roubaram a Chape. Roubaram o Jumelo, o Rodrigo e o Deva. A Chape, que não pulsava sozinha, também não vai sofrer sozinha esse roubo. Ei, juiz! Poxa vida, roubaram a Chape… Não adianta, com esse juiz não tem jeito, não tem papo, não tem pressão. A Chape foi roubada. Não é sonho, eu sequer dormi. A Chape foi mesmo roubada. A Chape, grande no seu carisma, até na hora da dor arrastou multidões. Torcemos juntos, Chape. Sofremos juntos, também. Como sofremos nas cobranças de pênalti, na noite em que o Danilo salvou quatro contra o Independiente. Só que dessa vez não deu pra salvar. Também não teve comemoração. Também não tem mais Danilo. Noite de jogo sujo, jogo triste. Roubaram a Chape. Roubaram o FOX Sports. Roubaram nossos amigos, nossos colegas. Roubaram os pais de família, os homens de bem. Roubaram um pedaço dos nossos corações. Roubaram a capacidade de acreditar, de entender, de aceitar…