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Por saúde e sustentabilidade, produção de orgânicos ganha força na Serra Gaúcha

Por saúde e sustentabilidade, produção de orgânicos ganha força na Serra Gaúcha


Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que mais utiliza agrotóxicos para a produção de alimentos. O aumento, na ordem de 155% na comercialização dos defensivos agrícolas entre 2002 e 2012, é relacionado por especialistas ao elevado número de casos de câncer no Estado. 

 

Na contramão da produção em larga escala e com grande aplicação de agrotóxicos surge, ainda que timidamente, a produção orgânica. Na Serra Gaúcha, a estimativa é de que a produção orgânica cresceu 15% entre 2010 e 2015. Ao todo, cerca de 480 famílias buscam impor uma nova cultura na produção alimentar.

 

Na localidade de Fazenda Souza, a 25km do centro de Caxias do Sul, a semente de um mundo mais sustentável é tratada com muito cuidado há 12 anos por um grupo de famílias. “A gente faz parte de um grupo de famílias que resolveu desenvolver esse projeto e se sustentar de uma agricultura que respeite a natureza e respeite a vida” explica Augusto Christ, que tem 23 anos e é um dos produtores da localidade.

 

Ao todo, quatro famílias dividem as tarefas e realizam a produção dos alimentos. A comercialização dos produtos ocorre por meio de um projeto chamado Confraria dos Orgânicos, que entrega cestas de produtos a domicílio. “A gente tem recebido uma boa aceitação do mercado trabalhando com cestas a domicílio, com assinaturas. É um projeto diferente, inovador na cidade, que consegue escoar a produção e ajudar a gente que se propôs a viver nessa filosofia produção de orgânicos a sobreviver”, destaca Christ.

 

As cestas, compostas por produtos como feijão, arroz, aipim, hortaliças em geral e frutas, são entregues geralmente entre a quinta e a sexta-feira. Atualmente, 50 cestas são comercializadas semanalmente. As encomendas são feitas por meio do Facebook e pelo Whatsapp (054 9976 6682). Além da produção própria, a cesta conta com produtos da Ecomorango, Coopvida, Coopare e também reúne alimentos de produtores individuais.

 

Apesar da boa resposta dos consumidores, Christ ainda reconhece que ainda existem muitas dificuldades para quem opta por esse tipo de comércio. “Hoje a gente encontra dificuldade na tecnologia para produção de orgânicos. O Transporte, maquinário, isso ainda é um gargalo”, relata o jovem produtor.

 

Além da questão tecnológica, a própria mão de obra também surge como um fator complicador na produção de orgânicos. “Esse é um projeto de uma proposta que a mão de obra é muito maior e por isso o valor agregado do produto. A gente sabe que produzir sem veneno, respeitando a natureza, tendo que controlar bactérias, fungos, sempre em cima, é uma dificuldade. A gente percebe que ainda assim, com esse esforço, o produto as vezes não tem uma qualidade que os clientes gostariam, porque comparam com o que é produzido com veneno”, argumenta o produtor.

 

As dificuldades enfrentadas no cotidiano, no entanto, ficam em segundo plano quando o assunto é a satisfação com o trabalho. “São muitas dificuldades, mas o retorno é muito gratificante. Pela saúde, pela qualidade de comer o que se produz, de saber que estamos bem alimentados, que estamos saudáveis. Outra coisa é a paz da natureza, de viver em um ambiente tranquilo livre de qualquer resíduo que desenvolva um câncer, uma alergia”, finaliza Augusto.

 

Feira Ecológica

 

Além do projeto de entregas à domicílio, outra oportunidade para aquisição de produtos orgânicos em Caxias do Sul é a Feiras Ecológica.

 

Conforme o poder público, a iniciativa foi criada em maio de 1998 e conta com o apoio de agricultores de Caxias do Sul e região, Ipê, Bom Princípio, Antônio Prado, Montenegro, Nova Roma do Sul e Torres, todos certificados pela Rede Ecovida. Os alimentos comercializados são cultivados sem a aplicação de pesticidas, herbicidas ou fungicidas químicos. 

 

A Feira ocorre todos os sábados das 6h30min às 11h30min, na Praça das Feiras, entre a Avenida Rio Branco e a rua Feijó Júnior, em São Pelegrino. Além do sábado, a Feira também ocorre às quartas-feiras com um ponto de venda de orgânicos, das 14h às 18h, localizado na Rua Santos Dumont, bairro Nossa Senhora de Lourdes.